Comentário ao comentário
"O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai demorar-se a regressar. Há tempo para uma história que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres, serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória, como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono se agora apenas me olhares de longe e adormeceres." Quantas vezes temos a ousadia de amar e, no final, acabamos sem nada. Ficamos mais fortes? É forte aquele que ama sem medo do que possa acontecer ou aquele que, de tão desiludido por tanto amar, simplesmente "gela à míngua dos dedos"?
Novae
@ dezembro 27, 2004 10:38 PM
Foi dos comentários mais bonitos que foram escritos neste blog... Refere-se ao ultimo texto que escrevi. "AGORA" Pergunto-me depois de ler estas palavras, é preferivel não arriscar o agora, arriscar a amar, é preferivel então não termos agora?
O Novae teve a amabilidade de me dar a poesia completa. Vale a pena ler.
Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.
Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira
"A Casa e o Cheiro dos Livros"