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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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26
Mar06

Eutanásia: Sim ou Não?

Cereza

(Da Morgaine)

Cereza, pedi-te um tema e tu deste-me este. Não constituiu um grande desafio uma vez que já tenho opinião formada. Mas tratando-se de um tema que origina controvérsias fiquei interessada, sobretudo em saber a opinião dos outros.

Conhecendo os nossos amigos "painelinhos", sei que gostam de coisas simples e curtas e assim fiz por isso, sem rodeios. A quem ler, peço apenas que não esqueça que se trata do meu ponto de vista e que cada um terá o seu, seja ele controverso ou não.

Até hoje, nunca ninguém me deu uma resposta que me deixasse satisfeita. Ou seja, eu é que lhes faço um desafio: quem for a favor da eutanásia explique-me porquê, seja de que maneira for, mas colocando-se no lugar de alguém que assiste a tudo. Mas não me venham responder com a dignidade humana. Não há dignidade nenhuma em querer deixar de viver ou em deixar que alguém desista.

 

 

              

 

 

Na ordem natural das coisas, a morte faz parte da vida. Nas sociedades ocidentais, a impressão é de que a morte não existe senão nos filmes ou noticiários televisivos, onde ela faz parte do jogo. Mas na vida real, parece que praticamente permanece oculta. Eu dou um exemplo: Cinco dias após perder o marido, uma viúva tem de regressar ao trabalho apresentável, maquilhada e sorridente.

 

Os colegas sabem do infortúnio mas nada comentam e ela lá terá de carregar o peso sozinha. A sociedade priva-se de algo importante ao querer fingir que a morte não existe. De tal maneira que até num doente terminal tudo se passa como se tivesse de acabar o mais rapidamente possível! Porque apesar de sermos obrigados a aceitar a morte, o sofrimento, o nosso e o do moribundo afigura-se intolerável e quase escandaloso.

 

Com o progresso da medicina este quadro apresenta-se ser menos negro já que cada vez se combate mais a dor ligada à doença, assegurando uma morte pacífica ao doente. Então porque falam em eutanásia?

 

Há de facto situações em que se assiste a um sofrimento agonizante que levam a que se queira pôr fim à vida com o intuito de parar o sofrimento. É óbvio que há aquele sentimento de pena ou piedade. Mas pergunto-me: pena por quem? Pelo doente de facto ou pela pessoa que o assiste (coloquemo-nos no lugar destas últimas)?

 

O sofrimento é insuportável para ele ou para nós? Se de facto, o ajudássemos a morrer, não estaríamos também a acabar com o nosso sofrimento? Não estaríamos a escolher o caminho mais fácil? É mas cómodo "atirar"o doente para a inconsciência total do que assisti-lo prolongadamente! É mas cómodo para a sociedade regular este problema por meios técnicos do que recorrer a unidades especializadas como os cuidados paliativos para assegurar o bem-estar máximo do doente nos últimos tempos de vida.

 

 Pergunto-me por isso, se haverá aqui uma verdadeira compaixão ou se esta "piedade" não esconde outras ambiguidades, mascaradas por motivos nobres, valorizando a eutanásia em nome da "dignidade humana" e argumentando que o ser humano cujo fim está próximo ou que se encontra numa doença totalmente incurável que o lança para o vegetalismo, deve ser poupado ao sofrimento. Sou incapaz de ver as coisas por este prisma. E se um doente pede eutanásia?

 

Estas situações não são novidade para ninguém  e são alvo de extensas polémicas. Por um lado, uns concordam que a pessoa em questão terá o direito de por e dispor da própria vida. Por outro lado, permanece a dúvida por questões éticas, morais e religiosas (só Deus pode dar ou tirar a Vida) que são sem sombra de dúvida as razões por que a eutanásia não é legalizada. Há que ter em conta inúmeros factores sobretudo a questão psicológica naqueles momentos de maior desespero, como numa altura em que um doente se encontra num sofrimento tal que reclama a morte aos gritos.

 

Uma vez a crise passada, e mesmo sabendo que haverá mais, o doente rejubila por não ter ido para a frente. Não é tão rara como se pensa ocorrer uma situação deste género. A vida humana deve ser valorizada seja em que estado for e nunca passar a ser vista quase como objecto que podemos descartar.

 

Para aquelas situações em que não se prevê o fim da vida mas em que uma pessoa considera viver em condições humilhantes, por se encontrar dependente dos outros para tudo, a vida torna-se insuportável. Pedem a eutanásia. Discordo totalmente. Porque na verdade, em muitos doentes interrogados em avaliação psicológicas conclui-se que o problema era um sofrimento mais moral do que físico: " não suportava ver-me ficar assim dependente para vestir, comer ou lavar. É humilhante".

 

Ou outro que ouvira uma conversa da pessoa que lhe prestava os cuidados: "já não aguento muito. Passei a noite a levantar-me, já me doem os braços..", etc.. Situações deste tipo aliadas ao facto de vivermos numa sociedade que honra os modelos, os vencedores, os jovens, os belos, os eficazes e os rentáveis, são o suficiente para destruir a vontade de viver. A capacidade para se sentirem diminuídos está estampada no olhar dos outros. E no entanto, um doente não teria a impressão de ser "menos humano" se estiver rodeado de uma "equipa" que sabe realçar a riqueza da sua pessoa, para além do seu sofrimento. É neste ambiente que um doente ganha uma imagem positiva de si próprio. Quando rodeados destes cuidados, ninguém pede o fim da vida.

 

Se existir realmente a preocupação de aliviar o sofrimento, este é eliminado na sua maior parte. Além disso, numa situação em que seria aprovada a eutanásia num doente deste tipo, seria desumano perguntar-lhe quando quer morrer! É simplesmente macabro!


A situação é diferente no doente terminal, onde se espera o fim da vida a qualquer momento e cujo estado é de grande sofrimento. O desejo surge, como é óbvio, mas por parte das pessoas que o rodeiam. A solução passaria por usar drogas para adormecer, não sendo mortíferas. Injectar numa veia uma solução de cloreto de potássio provocaria a paragem do coração e a morte imediata.

 

Fazer o doente adormecer por administração de drogas é diferente e dar-se-á uma morte tranquila durante o sono, não permanecendo o peso da dúvida nas nossas mentes. Eutanásia? Eu digo NÃO. Ou arriscamo-nos daqui a um tempo a ver nas manchetes do nosso dia a dia, as "interrupções voluntárias da vida, da velhice e de outras cenas."

 

Morgaine


 

 

"...Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people (Ah, look at all the lonely people)
Where do they all come from?
All the lonely people (Ah, look at all the lonely people)
Where do they all belong?"


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