Acto
Quantas vezes a nossa vida não parece fazer parte de uma peça de "teatro", em que nós somos os protagonistas... O texto é do Marco.
É neste delírio nocturno que me excita uma doçura de inferno. Sempre que passo por ti sinto o teu cheiro. És fêmea, carne de mulher, explosão de sentir. No teu toque apaixono-me, sabendo que no teu calor me queimo. Olha-me nos olhos e beija-me numa passagem intensa por este túnel de luz.
Descia eu por entre nuvens e sonhos, amarrei longas asas nestas costas que carregam todo este meu mundo. É interessante saber que a luz e o palco são meus. Bate palmas, sozinha, para mim.
Fecho-me no camarim. Suspiro. Perco-me no reflexo do espelho, permito-me a ser um pouco narcisista. Envelheço. Vaidade que me conforta, sou belo aqui na minha solidão. As luzes quentes aquecem-me o rosto. Falo de mim, para mim, sem ser eu que oiço… qualquer coisa assim. Paro, suspiro novamente.
Assaltas-me a memória constantemente, violas o melhor do meu íntimo. Os teus lábios cercam-me em pensamentos. Sinto tamanho desejo, tomo medo e reconstruo muralhas antigas. De tanto desejo torno-me frio, metódico e manipulador do sentir. Sou propriedade e proprietário desta longa, pesada e complexa máquina de fazer viver.
Abraço-te em pensamento, entrego-me e escondo-me. Desapareço por entre brumas neste respirar de antepassados.
Continuo a afundar-me frente ao espelho, bem dentro de mim. O suor que me escorre pelo rosto, os teus dedos que me apertam, asfixiam-me de prazer.
Este gozo entre a verde e virgem folhagem, cheiras a terra. Afago os teus cabelos, raízes de fogo, provando, trocando venenos.
Quero-te deixar para poder voltar novamente. Quero-te matar para que em futuras danças renasças mais uma vez em mim.
Visto-me, apago as luzes e saio pela porta principal. Apetece-me consumir coisas triviais. Troco um olhar com uma desconhecida, sorri. Acendo um cigarro e caminho pelo passeio. Tento pisar todas as poças de água, é giro.
Sinto-me bem.
Marco Neves
28/03/06 – 02h24m
"Well, we could let it slip away next time you won't obey I stand forever locked in a cage and we'd stray through the night
we could forget about
that foolish summer night
but if you still betray
my trust another day
I swear that you won´t live
to feel the winter's chill
I cannot let it slip away
my blood will start to boil
and yours bled to the soil
and i can't lose my rage
til you come crawling back to me
I can wait until the sun comes up
and still retrieve
and we'd stray through the night
I don't believe a word you say
I have to ask myself
how could it end this way?"