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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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03
Abr06

Caso de Vida: Sou Homo

Cereza

"...It's o.k.
It goes this way
The line is thin
It twists away
Cuts you up
It throws about
Keep me walking
But never shout."     

  

 ( Um trabalho da Morgaine )

 

                   

 

Assiste-se actualmente (?) a um emergir lento da identidade homossexual aos olhos do mundo, com as revelações de homens e mulheres supostamente rejeitados pela sociedade e pela Igreja devido às diferenças afectivas e sexuais. Após séculos de rejeição, destruição e intimidação, começam a soprar alguns ventos de liberdade.

 

A importância da imagem no exercer de uma profissão, o querer enveredar pela vida religiosa torna-se incómoda para quem é homossexual. Numerosos gays e lésbicas ficam “marcados” nas suas vidas, devido à ignorância da Igreja e da sociedade. Esta exclusão é sem dúvida motivada pelo medo e pela ignorância. A Igreja católica não conhece a realidade humana e espiritual com que vivem os gays e lésbicas, aplicando os termos “vergonha”, “desonra” ou “relações anti-natura”. No entanto já se levantam comentários positivos por parte deste órgão como bem manifestam as palavras do Cardeal Patriarca D. José Policarpo sobre o assunto: “ Não sou contra a relação homossexual. Apenas defendemos o valor da família como célula nuclear”(sic).

 

 Na realidade, estes homens e mulheres, só recentemente se levantaram apesar das feridas já infligidas, e impõem a liberdade de amarem, da única maneira que conhecem. A exclusão de que são vitimas está igualmente relacionada com a ideia de que o homem foi criado como ser heterossexual e que a homossexualidade seria um desvio no plano da Criação, que muitos apelidam de “pecado” ou de “ doença”, termos defendidos por “terapeutas” homofobos que tentam a todo o custo mudar a orientação sexual pela terapia, oração ou se necessário, manter o celibato forçado excluindo qualquer forma de amor sexual. Ou seja, o mesmo que afirmar que a manifestação da sexualidade é um direito exclusivo dos heterossexuais. O Vaticano foi dos primeiros a lançar-se ao ataque alertando para a “propaganda enganosa” das chamadas “comunidades católicas gays” que punham em causa a interpretação das Sagradas Escrituras.

 

Não imagino o dilema sofrido por inúmeros homens e mulheres ao descobrirem neles uma determinada orientação sexual sem que para tal tenha havido alguma influência na sua vida. Algo que nasceu neles sem explicação mas que tentam a custo mudar devido ao medo de ser vaiado pela sociedade. Mas mudar esta orientação inata é na realidade, tão fácil como mudar a cor natural dos olhos. Tentar transformar os homossexuais em heterossexuais acaba por provocar sofrimento e um resultado desastroso a nível psicológico e só serve para evitar o diálogo e a aceitação e fomentar a exclusão social. A própria família vê os seus valores abalados quando conhece a existência de um filho(a) homossexual. A vergonha leva os membros da família a controlar estreitamente as suas emoções impondo princípios demasiado rígidos e cuja regra absoluta é calar todo e qualquer assunto.

 

Não há um partilhar de sentimentos nestas famílias. Uma criança ou adolescente neste meio que tenha tendências homossexuais experimenta uma vergonha e uma culpa quando sente que foge ao estereótipo da família com valores morais. É obrigado a esconder a sua verdadeira essência representando um papel falso e conformista para ser aceite na família. Esta, e a própria sociedade esquecem-se frequentemente que o ser homossexual também possui qualidades e dons que contribuem de forma positiva para o desenvolvimento da sociedade em que vivem.

 

É claro que cada um mede o risco que a revelação da sua condição pode desencadear na sua vida. E avizinhando uma reacção negativa por parte das pessoas muitos optam por assumir sozinhos a guardar para si as pulsões secretas que os levam a querer alguém do mesmo sexo. A não-aceitação de si próprio leva a comportamentos mais desviantes do que se pensa. Enveredar pela bissexualidade é um deles. Os bissexuais ou ditos bissexuais engrossam as estatísticas e são cada vez em maior número. A questão é se se trata mesmo de um interesse por pessoas de ambos os sexos ou se é um meio de mascararem a sua verdadeira homossexualidade, escondendo-se no seio de uma família com filhos, com educação e valores e por outro lado, praticando uma vida dupla na qual existe uma pessoa do mesmo sexo envolvida. É um constante enganar a si próprio e à família que nele acredita.

Morgaine


              

 

 

Apresento-me apenas como R.
 
"Faço este pequeno relato a pedido da Morgaine, uma pessoa da minha inteira confiança; Pediu-me que registasse em poucas palavras o SER Homossexual, que de seguida descreverei por Homo...sapiens, sapiens.


 
Sou Homo, porque fiz um caminho, como diz o poema de António Machado, caminhando...e, nesse caminho que demorou 25 anos tive a minha primeira experiência aos 10 anos da qual eu não fui forçado a nada e que fiz, perfeitamente consciente dos meus actos, com um amigo de 13 anos.
 Fui “apanhado” pelo meu irmão, que contou em casa aos meus pais e estes perguntaram-lhe o que nos viu fazer, do pouco que viu. A partir daí parei por uns 15 anos, período em que tive uma experiência de namoro com uma excelente amiga.


 
No entanto, o mais me espantava é que, por mais que namorasse com ela, e por mais que tivesse as reacções químicas que é normal ter, não estava satisfeito com a minha libido nem com a minha performance. Tanto que, por mais oportunidades que tive para ter relações sexuais com ela, comecei sempre a arranjar uma desculpa qualquer para não me comprometer mais porque, uma coisa é a razão, outra a consciência de ter feito uma acção correcta e que não defraudava a minha pessoa.


 
 Assim, tive de passar por mais um tempo para poder assumir este passo, porque não é uma decisão fácil: é uma decisão que tomas para sempre.


 
 Só depois de ter a minha pequena independência face ao apoio familiar, comecei a ter a certeza do que queria, porque as oportunidades já eram outras. Mas, mesmo assim, não avançava muito porque os meus colegas de trabalho podiam ou não aceitar e não tinha, assim por dizer um que me entendesse....


 
Eis que, no meio do grupo de trabalho aparece uma pessoa que me convida para sairmos de fim-de-semana e, como era conhecido e quase amigo, aceitei com gosto, sabendo eu que aquele tipo também tem todo ar de ser Homo.
 Sim, descansem os que estão em dúvida... nós sabemos reconhecer os homens que gostam de homens...e eu acerto sempre. Apenas falta o à-vontade de atacar....mas isso é outra história. 
E, a minha primeira noite de sexo com ou sem amor. Foi BOM, como tudo que é feito com gosto.


 
 Mas as coisas não puderam continuar porque eu não tinha o meu espaço e a minha liberdade não era 100% total. Há pais que gostam de controlar os filhos, há pais que não se importam que os filhos entrem a qualquer hora do dia em casa e, há pais, como os meus, que pediam respeito e educação. E assim, lá tinha que cumprir com as regras de casa visto eu ainda viver com eles.


 
Pensei em como podia resolver este problema...adiava e continuava na casa dos pais? Foi então que decidi trabalhar para uma Região Autónoma. E, cá estou bem comigo e onde eu faço a MINHA VIDA e SOU EU.


 
A minha vida é da minha inteira responsabilidade e, para dentro da porta da minha casa, eu tenho a minha concha. Tenho uma governanta que me ajuda na casa, coisa que as mulheres sabem fazer muito bem, mas esta senhora é minha AMIGA e sabe o que eu quero e até me ajuda na escolha dos meus namorados. Lá diz, “eu gosto deste”,  “acho aquele feio”.....”ai este é tanto lindinho!!!”

 


 Brincadeira à parte, assumi inteiramente a minha relação com os homens aqui e tenho 11 anos de vivência homossexual. Para mim é uma vida rica porque aqui sou eu, e tenho os meus amigos que respeitaram a minha opção de vida. Após ter sido aceite aqui é que contei aos meus amigos no continente.....

 


 Faltava no entanto uma coisa...para estar BEM. Como contar aos pais. Foi difícil...mas teve que ser e foi...mas não foi logo....também demora a aceitação. Durante anos era ouvir lá em casa a família a perguntar “quando arranjas namorada”; “ai que deves ter muitas”;” ai isto, ai aquilo”. E eu a pensar para os meus botões: “se soubessem da missa a metade, estaria eu muito melhor....”
Foi este ano que realmente contei à minha mãe depois dela me ter perguntado: “foste a Lisboa e ficaste em casa do H. Como é que estavas à-vontade com ela?”. E respondi: “Mãe, eu não lhe disse se era rapariga ou rapaz. De repente, fez-se luz e a minha Mãe dizia: “ai, ai, ai”...e eu respondi de seguida:” Mãe, se desmaiar, não há problema porque o Artur Salazar (pastor alemão), está aqui, dá-lhe uma lambidela e fica tudo resolvido.....”
 A seguir a este episódio não telefonei durante uns dias e quando voltei a ligar a voz da minha mãe estava embargada. O meu pai disse que não tinha dormido. No entanto estava eu e estou eu, agora, satisfeito comigo. Não tenho que esconder nada. Sou maior, tenho 40 anos e sei para onde quero ir..... Quero amar e viver com um HOMEM.

 

 


Porque eu sou HOMEM que me compatibilizo com um HOMEM e o AMOR é LINDO....."

 

 

Assinado por R





















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