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Mai06
Ser ou não ser…. Alentejano, eis a questão.
Cereza
E de Itália viajamos para Portugal, mais própriamente para o Alentejo, pela mão da Pataniska.
Se a minha terra é Lisboa…..a minha casa é o Alentejo. Aqui há uns anos atrás, quando estava na moda as anedotas de alentejanos (benditas louras que as vieram substituir…) confesso que ficava sempre com uma mágoa, não conseguia entender o porquê de querem ridicularizar um povo e uma região que me era tão querida.
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Este texto, aqui reproduzido, da autoria de Leonardo Santana-Maia, advogado e professor, faz parte da revista “Alentejo Terra Mãe”, publicação trimestral, propriedade da Fundação Alentejo-Terra-Mãe (www.ALENTEJO-TERRAMAE.PT). A revista tem como fins a divulgação da história, tradições, costumes e falares do Alentejo, bem como a defesa e a preservação dos valores culturais, artísticos, arqueológicos, paisagísticos e ambientais da região.
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“Alentejo, palavra mágica que começa no Além e termina no rio Tejo, o rio da portugalidade. O rio que divide e une Portugal e que, à semelhança do Homem português, fugiu de Espanha à procura do mar.
O Alentejo molda o carácter de um homem. Não é alentejano quem quer. Ser alentejano não é um dote é um dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano.
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Portugal nasceu no norte, mas foi no Alentejo que se fez Homem. Guimarães é o berço da Nacionalidade; Évora é o berço do Império Português. Não foi por acaso que D. João II se teve de refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras, um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.
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Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino, depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia, para D. João II perceber que só o costado de um alentejano conseguiria suportar o peso de um empreendimento daquele vulto. Aquilo que, para um homem comum, fica muito longe, para um alentejano, fica já ali. Para uma alentejano, não há longe, nem distância, porque sabe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.
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Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar… E, quando regressou, ao perguntar-lhe se a Índia era longe, Vasco da Gama respondeu: “Não, é já ali.”. O fim do mundo afinal ficava ao virar da esquina.
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Para um alentejano, o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continua a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado. O problema de Portugal é precisamente este: muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, que desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja, muitos portugueses e poucos alentejanos. D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário, não teria partido tão confiante para Aljubarrota. É certo que o rei de Castela contava com um poderoso exército composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia dúzia de alentejanos.
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Mas os alentejanos não servem só as grandes causas. Não há como um alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. É por tudo isto que, sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de Inverno, dou graças a Deus por ser alentejano. Que maior bênção poderia um homem almejar?”
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Dá-me mesmo vontade de dizer à boa maneira alentejana: Áh magano!!!
PATANISKA
Comentário em Destaque:
De Marco Neves
11 de Maio de 2006 às 23:43:
É sermos e sentirmos...
Mesmo quando Agosto e a aragem quente seca os campos despidos...
As mulheres de negro contrastando com o branco das paredes...
E quando a manhã desperta? Saberão vocês ouvir?
E no frio de um Inverno quando passamos por uma casa e cheira a açorda... ou quando ao fim da tarde as braseiras invadem as ruas antes de aquecer as pessoas...
...e algumas que já não chegam
...nem voltam.
É assim mesmo... quando temos de parar e respirar bem fundo.
Nós vamos ficando, neste gerúndio... porque somos assim.
Amo-te Alentejo.
Mesmo quando Agosto e a aragem quente seca os campos despidos...
As mulheres de negro contrastando com o branco das paredes...
E quando a manhã desperta? Saberão vocês ouvir?
E no frio de um Inverno quando passamos por uma casa e cheira a açorda... ou quando ao fim da tarde as braseiras invadem as ruas antes de aquecer as pessoas...
...e algumas que já não chegam
...nem voltam.
É assim mesmo... quando temos de parar e respirar bem fundo.
Nós vamos ficando, neste gerúndio... porque somos assim.
Amo-te Alentejo.
( Alcaria Ruiva - Alentejo / Foto tirada por: Marco Neves )