XMAS - Um milagre
Tenho deliberadamente tentado adiar o tema Natal, mas como é obvio não é possivel fugir mais. É uma época que me deixa extremamente deprimida, e muito triste! Para mim a o Natal deixou de fazer sentido há cerca de 13 anos. Mas sobre isso falarei na vespera de natal. Talvez seja o meu caso de vida!
Depois aquela sensação angustiante que temos de estar felizes nesse dia, e comprarmos obrigatóriamente prendas para toda a gente... sinceramente, só me apetecia adormecer nesta altura, e acordar depois da passagem de ano... mas como não é possivel, vou pensando nos amores da minha vida... os meus sobrinhos... que estão na fase de pedir os Sherks, as fionas, os spiderman´s, e essa gentinha toda... J Para eles sim, compro este mundo e o outro se fôr necessário... e se quiserem o Shrek em carne e osso, eu vou á procura dele, e não descanso até o encontrar... Alias o Manuel, (o do meio, que tem 3 anos) até pensa que o Shrek mora aqui ao pé da minha casa, e o Rei Fakua (será assim que se escreve?)mora no castelo dos mouros, e o principe Charming no palácio da Pena... Até já lá fomos... escusado será dizer que quando cheguei ao castelo tivemos que fugir porque o Rei viu-nos e queria-nos apanhar... Lá fomos nós assustadissimos e a correr para o carro! O meu sobrinho, claro que não viu nada... mas sentiu, ai isso sentiu...
Bem chega de falar neles, que me perco...
Vou começar a publicar os textos de natal que muita gente me tem mandado nos últimos dias... (apenas quarta-feira será um excepção, já que vai haver um aniversariante muito especial) .Depois da data tenho uma série de textos fantásticos para publicar (desde já peço desculpa a quem ainda não viu os trabalhos postados aqui no Urban Jungle... mas descansem... eles vão aparecer!
O meu pedido de desculpas também pelo video... aos mais susceptiveis peço que não vejam... basta clicar no stop. Não são imagens inéditas... mas chocam sempre... a mim partem-me o coração, e sinto-me impotente para fazer seja o que fôr... e se há coisa que me deixa desorientada é sentir-me impotente para ajudar, nem que seja apenas com um carinho ou uma palavra amiga... Por isso por favor, aproveitem esta altura, para fazer bem á alma, e menos á carteira (mais que não seja) e vão ao site da organização, Make Poverty History e juntemse a milhões de pessoas em todo o mundo que com apenas um click e o nome tentam pressionar os mais ricos lideres mundiais a acabar com a pobreza extrema. ( www.makepovertyhistory.org )
Enfim a introdução já vai longa, e não vos quero deixar também deprimidos nesta quadra. Apenas quero que reflitam no verdadeiro sentido do Natal. A Constancinha mandou-me este lindissimo texto.
Milagre de Natal
Desde que sou gente, que me lembro de no dia 1 de Dezembro, os meus pais colocarem numa mesa, ladeada com uns panos dourados , as figuras do Presépio, menos o Menino Jesus, que seria colocado à meianoite de 24 para 25 de Dezembro e um pinheiro que traziam de Tomar. Cresci e comecei a ajudar. Uns anos depois, já éramos dois que em vez de ajudarmos, desajudavámos. A tradição manteve-se, tendo sido quase quebrada em 1979 mas sobreviveu até 2001. Em 1980 ganhei o meu espaço e com humildade conseguia ter um presépio e um pinheiro artificial, ambos minúsculos, em cima de uma mesinha de apoio, num canto da salinha para não incomodar os menos crentes.
Fui Mãe. Os Natais começaram a ter outro sabor e com eles a tradição de casa dos meus Pais estendeu-se até à nossa. Durante quase quatro anos, manteve-se o ritual. Nesse ano, 1987, eu queria que o meu Filho tivesse a alegria de colocar as figurinhas, uma a uma e enfeitasse o pinheiro mas não sabia como o iria fazer porque não conseguia comprar um pinheiro por mais pequenino que fosse.
Saímos os dois naquela sexta-feira e caminhámos pela rua. Encasacados até aos ossos fomos vendo as iluminações, as montras e até dois beijinhos ele recebeu do Pai Natal, que badalava um sino dourado. Mas e o pinheiro? A tristeza que me roía os ossos fazia-me esquecer o frio que estava. Como iria eu conseguir arranjar um pinheiro com 500$00?
Demoramo-nos por lá e já a noite tinha chegado encontrámos uma barraquinha, daquelas que a Câmara Municipal distribuía pela cidade, repleta de pinheiros.
Ó Mãe, Mãe olha tantos pinheiros.
Encolhida e a muito custo consegui balbuciar.:
- Tantos sim e tão lindos , Filho.
A vendê-los estava uma Senhora preta, gorducha como as amas que apareciam nos filmes da Shirlley Temple. À sua volta, três crianças brincavam numa alegre algazarra.
- Boa-noite, não se importa de me dizer quanto custam os pinheiros?
Num sorriso doce e rasgado respondeu-me.
- 300 escudos.
Ganhei vida ao ouvir o preço.
- Mãe, podemos levar um, podemos?
Olhei para aquela carinha e os olhos saltavam de felicidade.
- Podemos sim, Filho. Vamos lá escolher um.
A Senhora ajudou-nos e dei-lhe, não os trezentos mas os quinhentos escudos pelo pequeno milagre, o do ter encontrado um pinheiro tão barato. Mas se eu pensava que tinha sido milagre mal sabia eu o que ia acontecer.
No mesmo passeio ficava, nessa altura a praça de táxis e como ainda tinha algumas moedas no bolso pedi a um motorista, se nos levava a casa mais a nossa compra.
Coloquei o pinheiro na mala do carro e quando me voltei para desejar-lhes um Bom Natal, não encontrei vestígios nem dela, nem das crianças e muito menos dos pinheiros. Fiquei ali, parada, com o meu Filho pela mão tentando entender o que se passava.
- Mãe onde está a Senhora?
Não sabia o que responder e não encontrava as palavras certas. As lágrimas que se soltaram embargaram-me a voz e balbuciei:
- Não sei Filho, não sei.
Os anos passaram e entretanto, por uma questão de príncipios, abolimos de vez o pinheiro natural e optámos por um artificial, maior, muito mais maior do que aquele que eu tive, no meu espaço e no dia 1 de Dezembro, todos os anos nos lembramos daquela sexta-feira, da Senhora rodeada dos três filhos e do pequeno grande milagre que aconteceu e, sem dar por isso os meus olhos continuam a encherem-se lágrimas.
Constancinha