Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

Urban Jungle

28
Fev06

Memórias

Cereza

O texto é do Marco Neves, a musica também foi escolhida por ele. Como não posso ainda alojar a musica no meu servidor, procurei durante "algum" tempo o video, e lá consegui... A qualidade (video amador ) não será a melhor... mas foi o que se arranjou. Tentei torna-lo diferente e mais intimista... misturando a letra da música com o texto. Espero que gostem!


width=100%>align=center>

drink.jpg


Pain of Salvation - Undertow"...I'm alive and I am true to my heart now - I am I,
but why must truth alwas make me die?
Let me break!
Let me bleed!
Let me tear myself apart I need to breathe!
Let me lose my way!
Let me walk astray!
Maybe to proceed...
Just let me bleed!
Let me drain!
Let me die!
Let me break the things I love I need to cry!
Let me burn it all!
Let me take my fall!
Through the cleansing fire!
Now let me die!
Let me die...
Let me out
Let me fade into that pitch-black velvet night."


width=100%>align=center>

alone.jpg



São sensivelmente 7 da manhã, mais uma noite de afortunada miséria. Digo afortunada porque dentro da miséria subsiste algo de intocável, o sorriso. Malicioso e lambido pelo álcool. É apenas mais uma crónica dengosa e quase banal. Uma entre as últimas noites de inegável soberba.

"...Let me seek the answers that I need to know..."
Munido de viciosos trunfos, peco pelos sabores dos inúmeros batons que provei. Estes vergões demoram a desaparecer. Éramos tantos, perdi a conta desde o início. Que marotos, ora bolas! Este rapazinho que tanto se alimenta, esta voraz fome que me continua a comer por dentro.

"...Let me rise against that blood-red velvet sky..."
Amanhã era dia de me levantar cedo. Sei lá, fazer algo de normal, ir mudar a pilha do relógio, beber um café arejando ao ar livre. Empanturrei-me de corpos nus, reguei-me por dentro e por fora. Foi vinho, vodka e outras tantas coisas que nem me lembro. Foi suor, sangue, fluidos. Necessito de um banho, tenho a pele colada à alma.

"...I'm alive and I am true to my heart now..."

A cabeça parece que estoira, o calor do Verão mostra as suas presas ao findar da madrugada. Reparo que no bolso trago o que resta de um colar. Atiro-o fora, não me interessa uma prova de qualquer tipo. Basta-me a miséria. Enchi demasiado a cabeça e o estômago. Sinto-me esgotado, o pouco que me corre nas veias nem sangue é. Apenas tesão e adrenalina… sinto-me tão cansado.

"...Let me tear myself apart I need to breathe!..."

O sol já despontou no horizonte, a luz cega-me lentamente, viola-me a retina. Em passo custoso chego à minha rua. Passo-a lentamente como por cada corpo que se deitou ao meu lado. Acendo um cigarro amassado, tal como eu estou… e ambas as coisas me sabem tão bem…

"...Let me lose my way!..."
É um último tiro, uma última linha. As narinas estoiraram, vomitaram no espelho este guloso capricho. Paguei o seu preço, por uma última vez entre todas as outras. Foram outras, mais outras e ainda aquelas ali. Meu Deus, fartei-me.

"...Let me burn it all..."
Deito-me vestido, desobedeço à rotina. Dancei entre todos, despido e virado do avesso. Deito-me numa manhã de Verão completamente vestido, como acusando uma vergonha. Não são mais que meras memórias, fica-me mais uma. Desejo agora mudar o rumo. Experimentalismo esgotado, uma nova fase então. Tornar-me-ei mais igual a mim próprio. Vou adormecer por fim, vestido, extasiado.


"...I'm alive and I am true to my heart now..."

Marco Neves
02-02-06


"...Let me seek the answers that I need to now..."

28
Fev06

O Homem, A Cosmética, A Moda e o Sexo Oposto

Cereza

Homens, "Can´t live with them, can´t live without them!" Damn! Texto escrito por "a man, himself" Suicidal Kota*



vanderloo56.jpg



O mundo actual vive à volta do “in-voga”, da moda sempre actualizada, com as passerelles e lançamentos a invocarem os mais diversos estilos. Não menos importante, a cosmética tornou-se num ramo altamente lucrativo e aliado ao vestuário.


Quero aqui trazer à luz uma questão que parece ser sempre invocada mas nunca discutida, deixando a sua essência agarrada às trevas sombrias da incógnita, do Tabu e da dúvida ou indiferença. Já se escreveu aqui neste espaço sobre o “ser”, o “devir” metro-sexual mas a abordagem que quero fazer é bem diferente.


O homem desde que se lembra de ser homem, e de agir como tal, nunca pôde por de parte uma essência natural: Chamar a atenção do sexo oposto CUSTE O QUE CUSTAR para a sua reprodução.


Infelizmente o “sex-appeal” do homem nunca foi bem distribuido entre os individuos então, o homem menos deslumbrante teve de “inventar” uma estratégia para chamar a atenção do sexo oposto e seduzi-la! Hoje ainda perduram algumas técnicas ancestrais.


O poder argumentativo deve ser um dos mais antigos modos de conquista entre sexos, ao que hoje se chama habilmente de “dar-lhe a volta”. Isto faz-me lembrar algumas aves que utilizam este método.


Muitos dos desportos antigos realizados tinham como objectivo mostrar a “masculinidade” ou superioridade... mostrando ao sexo oposto que era o mais “poderoso” de entre eles. Na mais antiga competição, os Jogos Olimpicos, isso estava bem presente. O presuposto campeão era coroado com com ramos e folhas de oliveira. Ainda hoje isso acontece...


Entre outras formas de conquista, mais ou menos antigas está a moda e a cosmética! E é aqui que está o cerne da questão!!! Existem poucos (ou mesmo nenhum) animais que utilizem o sentido olfativo como aliado à conquista... sem ser a própria fêmea! Quando isto acontece no mundo animal, é um aviso da fêmea, algo do tipo “Olha querido, estou pronta para outra! Estou pronta para o coito! Alinhas ou não?”. Os animais apenas utilizam o “cheiro” para delinear o seu território.


Ao que eu pergunto: “Mas porque raio existem perfumes para o homem? O duche diário acompanhado de champoo não chega?”


Bem, a cosmética para homem existe por alguma razão... nem que seja para ganhar pó nas estantes! Mas não é bem assim... salvo raras excepções , já lá vai o tempo em que um homem conquistava a mulher com o inconfundivel ”cheiro a cavalo” ( que tempos deviam ser aqueles!, além de sexo nos celeiros para guardar palha, pouco faltava para o praticarem numa estrumeira!).



O que é certo é que desde a implementação do banho de rosas do Egipto que não se via ( ou não se reparava, ou se calhar eu é que ainda não tinha reparado!) uma corrida por parte da indústria cosmética para chamar a atenção do sexo masculino. Um homem bonito e com umas formas de um deus grego contam, mas não contam tanto assim se não se mostrar vestido como a moda manda, com um perfume masculino suave, isto sem contar com penteado e a barba.


É caso para dizer que o instinto mais primordial do homem, tornou-se deveras lucrativo!


Qual é o homem que ainda não comprou aquele perfume de “derruba” mulheres enquanto ele passa na rua, na esperança de uma cair nos seus braços a gritar ”Possui-me já aqui!” ou aquele casaco ou camisola que parece que foi feito por medida, que o torna um pouco mais seguro, ou aquele par de óculos que parece que têm um letreiro “ Elas vão olhar para ti, assim, às resmas!”.



Qual é a mulher que não gosta de um homem perfumado, com a face suave, cabelo curto, por vezes arrojado, e com um certa classe a vertir-se? Até pode ser ordinário e vesgo!!! Meio caminho está feito... basta não abrir a boca e não tirar os óculos!
Ainda virá o tempo em que o homem terá de rapar o peito e as costas para agradar à mulher!


Depois disto pergunto-vos qual deles é o melhor:


O eu, homem que trabalha de sol-a-sol, másculo, “homem” por assim dizer, quer de corpo, quer de odor versão “ cheiras a cavalo”, que veste umas jardineiras todas “cagadas”.


O eu, homem que, apesar de não ser um metrosexual, longe disso, mas não me privo da cosmética usual para o homem, da moda e do bem-estar comigo próprio.


Não é difícil...afinal é raro o homem que goste de uma mulher que não trate de si! Certo?


Suicidal Kota

25
Fev06

Os sete pecados capitais II

Cereza

Este comentario do Abel ao artigo anterior (Os sete pecados mortais) é tão lindo que tive que publicar!



493800 copy.jpg


Se ao menos eu pudesse dominar tudo isso? Ai se eu fosse capaz… Todas essas ferramentas interferem com o nosso interior e depende da forma como as agarramos. Na maior parte das vezes magoamo-nos. Por isso, estou a falar do bem-estar de cada um, ou seja, da felicidade, que é a palavra que a maioria adopta.

Os chavões do texto emanam potencial que ofusca o brilho do nosso interior e a alegria de viver (acrescentaria a ética e o sentido de justiça). Assim, precisamos de “libertar o espírito de todas as toxinas que nos envenenam” (Ricard Matthieu) e abrir espaço ao estado de realização interior, relegando para último plano a satisfação dos desejos (ilimitados) materiais, isto é, resolvendo primeiro os conflitos íntimos (“fazendo as pazes com o próprio”), sabendo que “a maior parte das perturbações interiores nascem de emoções perturbadoras e podemos morrer. Por vezes a manifestação descontrolada (sob pressão) pode provocar doenças mortais. “Pode-se morrer de apoplexia num acesso de cólera ou consumirmo-nos literalmente de desejo obsessivo” (Ricard M.), certamente por não se estabelecer o diálogo interior.

O diálogo e identificação de alguns dos sete pecados que contribuem para o bem-estar: O “prazer é apenas a sombra da felicidade” (Provérbio hindu). Dois processos mentais diametralmente opostos não podem surgir em simultâneo (Budismo). O amor e o ódio – “Inverno do coração”, segundo Victor Hugo, podem estar presentes mas não o desejo de prejudicar alguém e, em simultâneo, fazer-lhe bem (talvez a eutanásia… talvez…).

O desejo e seu aliado, o prazer, são muito sedutores. A inveja e o ciúme (os piores) traduzem a impotência de impedir a felicidade ou o sucesso dos outros. O ciúme por vezes é violento e destrutivo.

O orgulho e a humildade, o ciúme e a confiança, a generosidade e a avareza, a tranquilidade e o nervosismo são estados incompatíveis como as faces da moeda. Uma delas é dor e sofrimento, a outra emoção de felicidade.

A preguiça entorpece os órgãos e paralisa o corpo. Exercício físico e actividades culturais são bons antídotos.

Avareza possessiva não faz amizades porque trabalhamos sem gozar, gastamos a vida obcecadamente sem pensar, criando riqueza para gastá-la no fim da vida com a doença ou morremos sem arranjarmos tempo para a agastar.

A boa gula, companheira dos sabores, ao vivermos para comer afasta a saúde porque não se come para sobreviver. Em jeito de conclusão, um poema delicioso: “As chamas ardentes da cólera enrugaram a onda do meu ser.

A densa obscuridade da ilusão cegou a minha inteligência.

A minha consciência afoga-se nas torrentes do desejo.

A montanha do orgulho precipitou-me nos mundos inferiores.

O vento áspero da inveja arrastou-me ao Samsara.

O demónio da crença no ego amarrou-me com firmeza.” (Rinpoché). Ricard, Matthieu (2005), Em defesa da Felicidade, Editora Pergaminho, Lda, Cascais.

Abel

23
Fev06

Os sete pecados capitais

Cereza

Encontrei este texto fantástico na net, sobre os 7 pecados capitais. Quem nunca pecou? Ao ler este texto, não há hipoteses, peco todos os dias.


width=100%>align=center>

509270 copy.jpg



Preguiça


Já há muito o sol clareara a manhã quando ela abriu os olhos, espreguiçou por quinze minutos, rolou na cama e decidiu que aquele dia seria o dia de fazer nada. Que a poeira dormisse sobre todos os móveis e que a louça da antevéspera esperasse na pia pelo dia seguinte.




Luxúria



Deitada sobre o desencontro sentia ainda o cheiro do vinho azedo nos lençóis, os farelos que lhe beliscavam a carne e as marcas de todos os humores que deixavam em sua boca o gosto travado da última noite. Os beijos que tatuaram em seu corpo ásperas cicatrizes e as marcas das mordidas que ficariam para sempre em sua alma.



Ira



Um calor vermelho lhe subia das entranhas e a vontade era arreganhar as janelas e fazer o mundo todo ouvir aquele sentimento que ontem fora o eco de todos os uivos e hoje, pela manhã, despertava apenas a possibilidade do silêncio. Que ele se perdesse em outros abraços, que morresse em outros orgasmos. Que se fodesse pelas esquinas de outros desencontros.



Inveja



Foi a luz do sol que mostrou a ele suas carnes flácidas, a raiz branca de seus cabelos, os rictos que a maquiagem desfeita revelava. E ele vira claro o que a noite tornara opaco. Quisera ser a mulher da capa da revista com as carnes duras e o coração protegido por músculos comprados em academias e consultórios.




Orgulho



E ele saberia o que perdera quando se perdesse em outros abraços. Diria não, se ele voltasse e lhe pedisse um sim. Jamais o telefone, a campanhia da porta, o encontro de fim de noite.



Avareza



Trancafiar os sentimentos no fundo da alma. Economizar sorrisos. Capitalizar afagos. Atar no meio das pernas qualquer possibilidade de dádiva. Fechar as mãos a todas as posses que não a de si mesma. Dona de seus quereres os guardaria no cofre da alma atemporal e a ninguém seria permitida a chave. Ou o segredo.



Gula


Enlouquecida e nua devorou a dor.



Autora:
Ro Druhens

22
Fev06

Tempo para Meditar...

Cereza

Há algum tempo que dou por mim a dizer a algumas pessoas como me sinto cansada de blogar incessantemente aqui no UJ. Pode ser uma daquelas fases (vocês lembram-se, né) mas não é. Este blog sempre viveu dos comentários, e sem eles... deixa de ter o seu encanto.



Muita gente diz que anda desinspirada, acredito... mas... não entendo. Como é possivel termos chegado aos 8 mil visitantes/mês, e continuarem a ser os mesmos resistentes a comentarem.



Mas dou por mim a vê-lo crescer, e o entusiasmo de todos a decrescer (eu e vocês)...



Muitas vezes publico quase automáticamente, tão habituada e rotinada que estou. Não quer que pensem que vou acabar... não vou, além disso espera-nos um novo alojamento, apenas sinto que hoje preciso de desabafar sobre o assunto. Sinto-me cansada, doentita e desmotivada. Não só com o UJ, mas com outros aspectos da minha vida. Alias acho que isso se tem notado um pouco. Eu sinto muitissimo o que se vai passando por aqui... partilho as vossas alegrias, tristezas, euforias, gargalhadas e lágrimas, e acreditem que essas emoções muitas vezes mexem comigo. Torna-se dificil por vezes manter um certo equilibrio.



Para já nunca darei o prazer a algumas pessoas de acabar com o UJ... Nem sequer aos cretinos que por aqui passam para ofender... esses tratam-se bem... ip, logs, datas e toca a andar.



Não vou parar, mas "acho" que vou publicar os últimos textos que aqui tenho guardados, e partir para algo novo. Até porque ideias há... vamos ver se há mais alguma coisa.



Quanto ao almoço não será para já no dia 5 de Março... mas irá ser marcada uma nova data.



Hoje resolvi passar os olhos pelo blog todo... Tirei alguns textos ao acaso, que a mim me marcaram particular-me (isto sem falar dos nossos conhecidos "Casos de Vida". Estão neste post, e no abaixo. Hoje há muito para ler e meditar.





texto1.jpg


Os sinais que por nós passam...


E que na ânsia de percorrer o que nós pensamos que é o nosso caminho, o correcto, acabamos por vezes por nos perder em pequenos detalhes. Já nem sequer ousamos levantar os olhos do chão, na esperança vã de que nada nem ninguém nos faça tropeçar, o que iria dificultar o nosso percurso.



Tentamos seguir em frente contra tudo e todos, uma direcção tantas vezes errada, que nos curva o corpo, mais parecendo que carregamos o Mundo.
Mas teimamos em continuar. Lutamos contra moinhos de vento, cavaleiros fantasmas e demónios fervilhando em fúrias de raiva, no entanto, e apesar de confrontados com sinais tão minúsculos , continuamos.



Sim, continuamos numa teimosia obstinada. Pensamos inconscientemente ao vê-los. Recusamo-nos a admitir que algo acontece porque é um sinal. Afinal, nada na vida acontece por um acaso...alguém surge no nosso caminho e ali fica, por tempo indeterminado, ao nosso lado, vive em nós (mas nunca fisicamente para sempre). Pequenos gestos, uma palavra aqui...outra ali, um sorriso, um sonho...
Tropeçamos...



Caímos... e uma vez de pé retomamos o nosso rumo , mas sem deixar de praguejar: Raios! Está tudo contra mim! Ninguém me entende! Mas que coisa ....começo a cansar-me! Depois, sem dúvida as interrogações: Mas porquê ? Sim porquê a mim? Que mal fiz eu? Será karma? Devo estar a pagar por algo que fiz no passado...



Como nos vamos tornando tão insensíveis ? Como somos capazes de ignorar quem e o que nos rodeia?
E os sinais, esses que nos passam à frente durante o dia, que surgem do nada, mais parecendo estrelas cadentes ... mas teimamos em continuar um caminho que nos magoa, que nos torna infelizes e no qual tentamos sobreviver.



Há que parar.
Porque havemos de persistir nesta estrada se o que, no fundo, andamos a fazer é percorrer atalhos tentando a todo o custo voltar à estrada principal que é a nossa Vida?
Onde temos o direito de ser felizes?



Constancinha





texto2.jpg


"Como se mede uma pessoa"

Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento.



Ela é enorme para si, quando fala do que leu e viveu, quando a trata com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado.



É pequena para você quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas:
A amizade, o respeito, o carinho,o zelo e até mesmo o amor.



Uma pessoa é gigante para si quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto com conosco.



É pequena quando desvia do assunto.



Uma pessoa é grande quando perdoa,quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma.



Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.



Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.



Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande.
Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.



É difícil conviver com esta elasticidade, as pessoas agigantam-se e encolhem-se aos nossos olhos.
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de Ações e Reações, de expectativas e frustrações.



Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, torna-se apenas mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.



Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande...
É a sua sensibilidade sem tamanho..."



Já se arrependeu de,
em determinadas circunstâncias,
não ter tomado atitudes que viessem,
de alguma forma, melhorar a sua vida?



(William Shakespeare)






texto5.jpg


Este poema foi-me "oferecido"em tempos, gosto muito dele...pelas cerejas!

Cerejas, meu amor,

mas no teu corpo.

Que elas te percorram

por redondas.

E rolem para onde

possa eu buscá-las

lá onde a vida começa</br>
e onde acaba</br>
e onde todas as fomes</br>
se concentram</br>
no vermelho da carne</br>
das cerejas...

(autor desconhecido)



21
Fev06

Tu!

Cereza

Bem acho que este poema da Tex, fala por si. (e mais não digo :X Lol )Ah preferia a música, na versão Bryan Ferry, mas infelizmente... não se encontra!


width=100%>align=center>

kiss5.jpg



Tu, que me despes a alma e o corpo,
és a minha segunda pele.
Tu, que me enches de azul infinito,
és a minha outra parte.
Tu, que me fazes morrer e nascer de novo
és a minha vontade.
Tu, que danças dentro de mim,
és a minha madrugada e o meu amanhecer.
Tu, que me tens por inteiro,
és o meu sorriso.
Tu, que embalas os meus sonhos,
és tudo o que invento.
Tu, que me sussurras carícias
és a minha inquietação mais deliciosa.
Tu, que me fazes tão feliz,
és o meu amor!


Tex
(20.02.06)



These Foolish Things:
"A cigarette that bears a lipstick's traces
An airline ticket to romantic places
And still my heart has wings
These foolish things remind me of you

How strange, how sweet, to find you still
These things are dear to me
They seem to bring you so near to me

The sigh of midnight trains in empty stations
Silk stockings thrown aside dance invitations
Oh how the ghost of you clings
These foolish things
Remind me of you..."



19
Fev06

Amadeus Mozart: 250 anos

Cereza

Também aqui comemoramos os 250 anos, da data do nascimento de Mozart. O texto é do Abel*


width=100%>align=center>

KrafftPortrait copy.jpg



Nada vou inventar, limitar-me-ei a descrever a biografia e um pouquinho da obra do grande génio de música clássica que tem deliciado os amantes do género musical ao longo de mais de 200 anos.
Passados que são 250 anos da data do seu nascimento, os órgãos da Comunicação Social não se cansam de divulgar, quer o génio, quer a sua obra e nós, cujo poste é generalista, não podemos deixar passar o evento em claro. Vamos também fazê-lo com o nosso empenho e à medida da nossa dimensão. Por já ser tardio, assinalaremos apenas o ano da efeméride e não o dia.

Penso que, para a maioria de nós, falar de Mozart significa falar de música clássica, ou de um emaranhado de nomes… de ritmo pachorrento. Algumas das suas composições já as conhecemos. Quem já não ouviu falar em “Bodas de Fígaro”, “Flauta Mágica”, “O Requien”, embora por vezes não consigamos as associar ao mestre. O jovem Mozart nutria grande fascínio por Hydn e Bach, pelo que a sua música recebeu influências.

width=100%>align=center>

mozart1.jpg


BiografiaDos sete filhos nascidos de um casal de Salzburgo”, apenas dois sobreviveram: Maria Anna (1751-1829), chamada de Nannerl (exímia pianista) e Wolfgang Amadeus Mozart (Bptizado na Catedral de Salzburdo com o nome de Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus), nascido em Salzburg (Burgo do Sal), no norte da Áustria, em 27 de Janeiro de 1756, último filho do casal.

Descendente de artesãos, era filho de um professor de música (violinista e compositor talentoso), Leopold Mozart, de Augsburgo (Sul da Alemanha) e de Anna Maria Walburga Pertl de St. Gilgen. Seu pai Leopoldo foi compositor de câmara da corte do arcebispo Sigismund, em 1757, segundo violinista em 1758, e vice-kappelmeister em 1761, local onde o pequeno Amadeus Mozart frequentemente a todos surpreendeu.
Em 24 de Janeiro de 1761 aprende a tocar a sua primeira peça ao cravo (c/ 5 anos de idade) e em Fevereiro desse mesmo ano compõe a sua primeira peça, o Andante em Dó Maior K.1a.

Em 1762 a família deixa Salzburgo e parte numa espécie de digressão onde Mozart dá o seu primeiro concerto público. Viena, Linz, Paris, Londres, Wasserburg, Munique, Augsburgo, Versailles, Lille, Haia, Amsterdão, Utrecht, Antuérpia, Bruxelas, Valenciennes, Dijon, Lyon, Genebra, Lausanne, Berna, Zurique são os locais onde os Mozart tocam nos salões “chiquérrimos” (chiquíssimos) dos palácios e castelos da nobreza, para a aristocracia, incluindo a Realeza e suas cortes. Em 1766 os Mozart retornam a Salzburgo.
Em 1770 a família Mozart faz a sua primeira viagem à Itália, visitam várias cidades, e tocam para o Papa Clemente XIV. Mozart é agraciado pelo Papa com a Ordem da Espora Dourada.

No final do ano de 1777 Mozart conhece a família Fridolin Weber. Apaixona-se por uma das suas filhas, Aloisia (que o enjeita), soprano, e casaria mais tarde com outra filha, Constanze, em 4 de Agosto de 1782. Dos seis filhos que teve este casal, sobreviveram dois, Carl Thomas e Franz Chaver, dado que quatro faleceram no primeiro ano de vida.
Mozart falece a 5 de Dezembro de 1791, aos trinta e cinco anos de idade (por causas ainda hoje desconhecidas), tal como muitos grandes nomes, na pobreza.


A ObraMozart deixou um rico e extenso património cujas composições eram orientadas para música vocal secular, sacra e maçónica, instrumental e de câmara. Das mais de quinhentas obras, cujos nomes nada nos dizem…, ouvidas, apelam à delícia do sossego e imaginação… Apenas citamos as mais importantes:
As óperas - As Bodas de Fígaro, Don Giovanni, Cosi Fan Tutte e a Flauta Mágica;
Missa Solene em dó menor, o Requien;
Concerto e Quinteto para clarinete;
Cinco sonatas para piano;
Reorquestração da Oratória O Messias (De Haendel).


width=100%>align=center>

mozart2.jpg


A VidaNem sempre foi um mar de rosas. Entre 1772 e 1778 foi uma época penosa e dura para o músico, à qual se acrescenta a morte da mãe em 1778 e os desenganos amorosos. Em 1783 rompe a sua relação difícil com o arcebispo para quem trabalhava e parte para Viena. Por ser fã dos ideais de liberdade (sopram os ventos da Revolução Francesa) aproxima-se da maçonaria que lhe trás alguns problemas.

Vê sucessivos falecimentos de seus filhos à medida que nascem. Em 1783, 1786, 1788 e 1789. Sua filha Teresa morre com apenas seis meses de vida (1788) e supõe-se por falta de cuidados e de alimentação necessária dado o estado de penúria em que Mozart vivia na parte final da sua vida.
Conta-se que “quando menino, um dia brincando no palácio imperial, caiu e foi Maria Antonieta (mais tarde a desafortunada rainha de França) que o ajudou a levantar-se e a limpar o fato. Enxugando as lágrimas e dando-lhe um beijo expressou-lhe a sua gratidão, dizendo: “Obrigado. Quando for grande caso-me contigo”.



width=100%>align=center>

Mozart3.jpg


A MúsicaNão nasci no meio da música clássica e sei perfeitamente que não é fácil gostar dela, tal como gostamos dos Michels, dos Elvis, das Madonas, dos Velosos, das Marisas ou Nízias e tantos mais. A necessidade de estridente silêncio ao longo da vida ensinou-me a apreciá-la, por vezes com muita paixão. Sou, como tantos de vós, leigo na matéria.

Se me perguntarem de quem é e qual é o nome da composição, orquestra, quinteto ou as vozes, certamente que direi disparate em 99% dos casos... Se entretanto as ouvir, a memória delicia-se com os afagos dos sons maravilhosos expelidos pelos violinos, trompas, fagotes, harpas, flautas e tantos outros instrumentos. Se tais gemidos sinfónicos sincronizados forem suavemente libertados por uma excelente aparelhagem estereofónica, tanto melhor.
Se a audição for ao vivo, não é maravilhoso, é simplesmente espectacular música dos Deuses. Sinto como que se todos aqueles instrumentistas estivessem a tocar só para mim, mesmo com o auditório repleto. Por isso, para mim, esses momentos são de infinita abstracção.

São estas as razões pelas quais norteio os meus sentidos para a estação televisiva MEZZO e a Rádio Difusão Portuguesa, Canal 2 (Clássica) para ver e ouvir a espectacularidade musical.
Mas parece haver muito mais gente que, embora nada percebendo do assunto, também se delicia com isso. Estudos efectuados com crianças pré e pós natura, sossegam quando ouvem música clássica, contrariamente ao que se passa com outros tipos de música. Segundo parece, dito por um avicultor português, as galinhas põem muito mais ovos desde que o aviário esteja dotado de música clássica porque, segundo ele, as suas galinhas soltam o stress. Também experimentou com outro tipo de música (tipo Zé Cabra) mas os resultados não foram satisfatórios. Será por isso (sossegar as massas) que anualmente o Centro Cultural de Belém promove a Festa da Música ou será uma tentativa inglória de aculturar os fute(is)bóis?


SugestãoAs sensações abstractas, tal como a música, podem despertar emoções através de imagens como é o caso desta música serena que se associa a uma realidade azul. Se violenta a associação será vermelha. O nosso cérebro consegue criar tais imagens capazes de influenciar o nosso humor. Assim, as imagens agradáveis podem relaxar e modificar a respiração, a tensão muscular, o ritmo cardíaco, pelo que a doçura destas melodias podem ser um relaxante quando nos encontramos sob tensão.

Convido-vos (se pagarem o vosso ingresso) para o CCB. Nunca falto ao evento (2006 – Música Barroca).
Bibliografia: Rincón Eduardo, Mozart, Edição - Mediasat Group, S.A., Editora – Magdalena Saiz, Público Comunicação Social S. A., Porto, 2005// Argolo, Camila (1997), Mozart Vida e Obra, actualização em 2005, http://mozart.infonet.com.br/Index.htm


8//02/2006
Abel Marques

17
Fev06

Que me interessa?

Cereza

Da nossa Narag



width=100%>align=center>

morte4.jpg



Andei já eu de mão dada com a morte
Uns dizem que é fado,
Outros dizem que foi sorte.
Mas que me interesso eu com a morte?
Se já me colocam adágios
No alpendre da frente da casa,
Como que bons presságios,
Para o meu eterno descanso.

Mas que me interessa isso a mim?
Se mais certo não há
Que termos todos um fim,
Porquê querer tanto ver a manhã?
E logo algo que, enfim,
Vem todo o dia!
E que tanta vez passamos sem ver,
Dormindo até o meio-dia
Por desconhecer
Que no seguinte amanhã
Podiamos morrer.

Não me interessa isso mesmo nada!
Eu que acordava toda a madrugada,
E ao pôr do sol estava deitada,
Não quero saber se verei amanhã!
Não dei o corpo ao trabalho
Não estudei, nem sou educada,
Tudo o que sei é quase nada,
Mas no que aprendi nunca falho!
Não tirei até agora grande lição
Excepto que a razão dá trabalho
E o coração é um cobarde reles
Que nem anjo e demónio,
E preciso de nenhum deles.

Ainda assim eu choro,
E não! não temo a morte.
Não temo a morte porque não vivi
E tudo o que corri,
Tudo o que senti,
Não foi mais que um falanço da minha parte
Talvez porque fui ingénua,
Ou faltou-me a arte.
Para viver é preciso arte.

E com braços frouxos
Embraço de uma triste mentira
De que ainda um dia tiraria
Algo de sabedor
Desta vida minha.

Doença.
Doença é o que me assola diariamente,
Como um tumor dilacerante,
Permanente.
Vivo sentada e dormente.
Como uma doente,
Para tudo preciso de um ajudante,
E nada me espera,
Nem pensamento, nem realidade,
Tudo o que me resta é a minha enfermidade
E uma cadeirinha
Onde me encosto, dolente.



by Bárbara Sousa aka Narag
30 de Janeiro de 2006


16
Fev06

Número 12: Kill Bill (Megabife)

Cereza

Bem o texto está demais... mas não sei se entendem a minha interpretacção "gráfica"! Confesso, estou exausta! Lol! Puxei, puxei pela cabeça, e foi nisto que deu o texto do Marco. Divirtam-se!



width=100%>align=center>

killmega1.copy.jpg



Passa pouco das 10 da manhã. Encontro-me entre idosos, estropiados, suspiros, queixumes e pesares. O tempo arrasta-se como se fosse a caminho da cadeira eléctrica. Alguém pergunta “É aqui que se apanham as injecções?”, eu acho que aqui apanha-se uma dose industrial de tempo perdido. Observam-me e eu observo-os como se não fosse nada comigo.



São 10h12m, continua tudo na mesma. O número um entrou… sendo eu o doze… minha nossa, ainda tenho tanto tempo à frente. Mostrar análises, “Ai o menino tem de ter mais cuidado”, passa-me papéis novos, um trocar de olhar, tensão arterial aceitável, o menino mais qualquer coisa e quando sair por aquela porta já passará do meio dia certamente.

Faz-se silêncio, que morte! Alguém resolve falar, senhoras de idade trocam entre si experiências de doenças e maleitas. Tossem, falam de febre, adoecem no físico e na mente. Isto influencia involuntariamente o meu estado de espírito. Tenho os lábios colados de tão cerrados que estão.

A porta abre-se, aquela voz que já me é familliar, soando desde o fundo do gabinete cá para fora “Número dois!”. Bem, só faltam 10 pacientes… e pacientemente aqui fico, de perna cruzada, quase dormente. Não olho em meu redor, não me apetece.

Comichões, os comprimidos que se acabam, a vista que turvou há tempos, oiço pelo ar. Uma criança que brinca, estatela-se no chão mas não chora. Passos ao fundo, um “Bom dia..” comedido e envergonhado de quem chega. Enfermeiras novas, pinturas antigas nas paredes, feitas por crianças que hoje são adultos. Este irritante chão de vinil.. vermelho. Overdose de luz fria, o típico cheiro asséptico destes lugares. O pior… o pior mesmo é esta morte lenta. Tudo o que converge para este local. Sinto no ar toda uma força negativa. Isto faz mal a qualquer um!

Continuam as conversas das “malazengas”, o “ouvi dizer”, “diz que viu”, “diz que disse”. Epah, aquela enfermeira é simpática. Pois… continuo colado ao caderno, nada mais tenho para fazer. O número dois que continua lá dentro. Debitará todos os seus males? Tantos são, adicionados e empilhados ao longo dos anos. Talvez até o desgosto de ver o Simão a jogar que nem um nabo pago a peso de ouro.

O ambiente varia entre o silêncio de velório e um frenesim de escassos segundos, são ondas, variantes. Ai, como gosto daquela voz “Número três!”. Abre-se a porta da caverna e o número dois sai de alma liberta, como se estivesse livre de todos os seus pecados. Sai sorrindo, de passo leve lá vai… trálálá. Será que um dia sairei dali assim? Serei tão problemático com esta realidade que já nem me consigo abstrair desta teia de sentimentos? Poderei eu ser um pouco mais simples neste capitulo? Chegar ali ao gabinete e livrar-me de todos os meus males, “Oh Doutora, eu existo… e agora?”. Manda-me tirar umas radiografias, ser bombardeado com substâncias atómicas, daquelas que fazem bem à tosse. Tomar uns comprimidos placebo, tornar-me feliz da vida e assentar todo este pó que me serve de névoa mental.


width=100%>align=center>

mega3.jpg


Desde há bocado que oiço estas duas personagens que se encontram ao meu lado esquerdo. Dois professores que se queixam do que sempre se queixaram. E os espanhóis isto, os ucranianos aquilo, sistema, dinheiro, docentes, planificação, discriminação, etc. Eu que detestava apanhar com recrutas porque a conversa era sempre a mesma, hoje constato que estes dois conseguem fazer pior. Bolas, não há mais nada vida para além disto? Todos temos mais qualquer coisa para dizer, está um belo dia!

A porta que se abre, “Número quatro!”, a caneta que por vezes falha, novamente sinto que estou na mira dos olhares, sinto! As enfermeiras do gabinete ao lado tiram a bata, desaparecem. Continuo a ser observado… um dos professores é mulher, saberá ela que não aprendi a tabuada? Estará estampado na minha cara que em tempos fiz frente à minha tutora da primária? Levei reguadas à barda, de nada serviu, apenas para fincar ainda mais a minha revolta em não acatar as ordens. Ainda hoje demonstro um orgulho estúpido e cego por não ter aprendido a tabuada e a razão inerente para o feito. Há caprichos de que não abdicarei mesmo, sorrio maliciosamente. Encosto a cabeça para trás, necessito de descansar por um momento. Sinto o sangue na cabeça, tudo continua na mesma.

A criança volta a cair no chão, os professores naquele problema existencial e limitativo. Eu por aqui também estou limitado. Novamente a ser observado, uma senhora de rosa e preto, baton vermelho garrido nos finos lábios. Estarei a fazer algo tão fora do comum? Saltam-me letras da cabeça e nunca dei por isso? Será fumo? Não me apetece ler revistas de propaganda médica. Não me apetece estar num local que já por si me deixa doente e enganar o tempo a ler algo sobre a lepra, não quero!

São 11h05m e ainda vai no número cinco. Entra o número seis, óptimo! Falta metade. As caras destas enfermeiras que chegam são-me familiares, dá-me a impressão que já andaram comigo ao colo. Ai! Tenho um acesso qualquer, sinto-me tarado, só mesmo a febre me tiraria a gana de qualquer-coisa-que-não-sei-explicar, a minha voz da consciência diz-me “Não te trates não…”.




width=100%>align=center>

mega2.jpg


O encadeamento da conversa começa a alterar-se com demasiada rapidez. Não sei porque disse que me sentia tarado, eu sou! Tarado correcto, pacientemente tarado, o taradão que espera pela sua vez. Observo umas ancas por dentro de umas calças brancas de bombazina. O tarado que escreve, esperando por um orgasmo no final de cada página. Sei lá, estou por quase tudo. Vou mascar uma pastilha como se fosse um adolescente malcriado. Faço barulho ao mascar, mostro os dentes, as senhoras calaram-se. Oh, dei nas vistas, olha que bom! Apetecia-me perguntar-lhes se era aqui que dão as doses de metadona mas já me basta a fama por esta terra. Como é bom ter fama e algum proveito…

Eis a maldita porta verde que se abre, entra o número sete. Ora bem, sendo agora 11h20m, numa hora foram atendidos sete pessoas, espero que daqui a outra seja eu. Sala de espera, lista de espera, marcação para o dia, marcação no dia que já tinha sido marcado num outro dia. Espero pela minha vez com papéis para mostrar. Selos, carimbos, recibos de computador, 2 euros de taxa e o chão de vinil irritantemente vermelho.

Em que número vai? Já nem sei… sinto-me aborrecido, apetece-me libertar um “Foda-se!”. Não o faço porque não quero associar a minha fama à ordinarice. Só o sou uma vez por outra, bem longe… pois, está bem.

Não tenho mais nenhuma cadeira livre, os professores já me estão a irritar. Será que não podem falar de outra merda qualquer? Será que os tipos da recolha do lixo só falam de contentores e nas madrugadas que levam agarrados à traseira de um Mercedes? Não posso! Não quero! Não me apetece!

Um rapazito vestido de homem aranha surge do nada. Olha que giro! A mim obrigaram-me a ir vestido de... João Ratão, aquele do caldeirão e tal, como eu detestei esse dia! Lembro-me de um cromo vestido de palhaço que ia atrás de mim, não fez mais que levar o tempo inteiro a puxar-me a cauda. Lembro-me tão bem dessa manhã horrorosa. Vestido a rigor, de cartola na cabeça com um elástico que me assou as orelhas. Calças cinzentas e com casaco de aba de grilo. Bigode e cauda de roedor, com cara de enterro no dia do casamento, um fofo! Ao meu lado, obrigado a dar o braço à carochinha. E lá fui pelas ruas da vila, à cabeça do pelotão da malta da creche, uma sentença! Personificando um fulano de uma história que acaba em tragédia.

Entra o número nove, eu sou o doze, está quase, está quase! Fiz uma pausa de alguns minutos, tirei umas fotos dos locais que mais me irritam. Quando as pessoas se calam, o barulho das lâmpadas invade-me. Ai! Número dez! São os professores, que bom! Falta pouco para mim e o melhor é que deixei de os ouvir. Restamos apenas cinco aqui na sala de espera. Falam alto, eu continuo calado. Corte e costura, mordaz, a ferro quente. Suspiro, olho pela janela, cerro levemente os olhos devido à luz exterior. Não entendo porque a janela tem este formato. Talvez da mesma forma que o responsável pela sua concepção não me entende, será?

Ainda não me passou a vontade de dizer “Foda-se!”, mas está mais calma. Falta pouco para a minha vez. Os ponteiros roçam já as 12 no relógio. Eu bem disse como iria ser, eu bem disse! Ao tirar o caderno para escrever um pouco, perguntei-me como iria preencher esta morte lenta. Pensei eu que nem chegaria a metade. Ora bolas, aí enganei-me. Isto está-me a saber tão bem! Ainda por cima a folha está quase no fim, mais um orgasmo ao virar da página. Hoje acordei particularmente tarado, apetece-me! Tenho fome, sede e nem digo mais nada!

Acabo de saber que uma das senhoras comprou um colchão novo, tem uma filha de 26 anos. A outra senhora fala da sua temperatura, de manhã tem 36,5º , ao almoço 37,25º (esta achei curiosa!) e à noite 38,5º. Calaram-se, ouvem a outra que se queixa da vida. Martelam na mesma bigorna a vida inteira, voltam, revolvem, repetem a mesma história do marido, a filha, a neta. E volta a contar de inicio para que toda a gente saiba. Estão entretidas entre as quatro. O número dez teima em não sair. Oh não! Os professores! Assassinam-me o resto do tempo! Deixem um pouco para mim por favor! Será que isto tem serviço de confessionário social e eu não sabia? Será que fiquei parvo de todo? Será que não há retorno? Porque raios escolheram o chão desta cor? Porque não páro com as perguntas? Porquê isto e não aquilo? Tenho fome, continuo tarado e com vontade de dizer “Foda-se!”. Gosto de ver a palavra escrita… foda-se! Foda-se! Foda-se!

Agora neste silêncio típico de velório nas horas da madrugada, as quatro senhoras observam-me. Nem uma enfermeira novata que passa, pouco mais tenho para dizer… ou então minto. Começa a hora de aparecerem os “não consulta”, os oportunistas que não se dão ao trabalho. Não passo a minha vez a ninguém, que se fodam! Esperem sentados, peguem numa caneta, roam-na, façam rabiscos, tirem cerume dos ouvidos, qualquer coisa! Não me interessa, não me importa e nem quero que se importem.

Masco a pastilha vagarosamente, segundo a segundo. Merda! Já lá estão há mais de 15 minutos, não chega já? Umas aspirinas e ficam porreiros, reforma antecipada, um lugar bem remunerado no Ministério… vá! Só quero que chegue a minha vez. Agora tinha que emperrar no dez? Faço uma pausa. Resultou! Após 30 minutos dentro do gabinete. Pronto, 15 minutos para cada um. Pergunto-me quando chegará o dia em que estarei lá mais de 15 minutos.


width=100%>align=center>

megas4.jpg


E para variar, estou a ser observado por alguém. É mulher, sou o único do sexo oposto aqui. Murmura qualquer coisa. Porquê? Não me preocupo com a resposta. Apeteceu-me simplesmente perguntar porquê. Olhei para ela, fintei-a nos olhos, apanhei-a a olhar para mim, morde o lábio. Desvio o olhar, continuo a escrever esboçando um leve sorriso. Sou o número doze e falta pouco para deixar de ser número. Espero ansioso por aquela voz do fundo do gabinete “Número doze!”. Entrar, fechar a porta, cumprimentar e ouvir “Então menino Marco, como está?”.

Finto-a novamente, apanho-a a olhar para mim mais uma vez. Sei que quando entrar por aquela porta, as quatro senhoras irão comentar. Número doze, di-lo caramba! Quero ouvir! Di-lo! O número onze sai do gabinete, procura por uma enfermeira para qualquer coisa, volta a entrar.. vou guardar o caderno para não ser apanhado desprevenido. Que se lixe, não paro até ouvir “Número dozeeeee!”. Estou a ficar obcecado com isto. Não me preocupo muito, mais cedo ou mais tarde sei que deixarei este momento. Isto é bom saber que é finito, custoso mas finito.

Não tenho boleia para casa, irei fumando um cigarro pelas ruas. É o habitual, caminhando ao sol, rumo a casa. Ai, a número onze volta a sair e volta para dentro… só pode estar a gozar comigo!
Deixo de ouvir ruídos, já são 12h40m, os funcionários já abandonaram o barco. Restam os maiores de doze, é uma questão de esperar só mais um pouquinho. Aguenta, não chora, diga “Foda-se!” para si, diga “Foda-se!” pelos outros. Mande-os foder mas não seja tarado. Masque pastilha de boquinha fechada. Não ligue se o observam, não ligue a nada mais. Enfim, limite-se à sua existência. Distancie-se mais um pouco. Seja abstracto e faça cara de parvitico. Tenha ainda mais fome, coma mais um pouco de si. Seja um número doze orgulhoso. Rebole no chão de vinil. Não queira saber do arquitecto, da propaganda médica do ano passado. Não ligue ao que segredam ali ao canto. Diga novamente “Foda-se!”. Esqueça as calças brancas de bombazina, de si, qualquer coisa!

(A porta abriu-se e larguei a escrita, demoro 8 minutos da minha vida no gabinete... a vida é bela!)




Marco Neves – 10-02-06 – Número Doze

Pág. 1/3

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2006
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2005
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2004
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D