Aromas da minha Terra I
Hoje uma homenagem a ÁFRICA, mais precisamente Angola! Mas a homenagem principal vai para uma pessoa muito especial, para o nosso "paineleiro" Abel que faz anos! Vocês vão já entender a razão a ligação entre Angola e o Abel!
É com muito carinho e orgulho que lhe desejo um Feliz Aniversário do Urban Jungle!
1 - Namibe, deserto onde nasci
Sol e maresia abundam por ali
Espectacular oásis onde brinquei
Sintam o lugar lindo que adorei
2 - Na Natureza dessas paragens
Vemos dunas e miragens
O chão ondulado no calor
Expira ar queimado do ardor
3 - Grãos amontoados de areia lisa
Moldados pelo vento e pela brisa
Infinita imagem de áridas ternuras
Inferno que amamos sem verduras
4 - No casario junto à praia
Onde cresci e sonhei
Muito que de mim saia
Dos pescadores herdei
5 - Tenro, nu nadei na enseada, grande
De nome, era mas já não é Alexandre.
Tombua, nome novo. Esquisito!
Agora já soa, para mim, bonito.
À terra o homem quis e ligou
O que Deus há muito semeou
6 - Welwitschia é seu nome
Mirabilis seu sobrenome
Tombua foi nome primitivo
O da Europa é o conhecido
7 - No Namibe foi onde Ele quis
No deserto a planta é feliz
O botânico a beldade estudou
Ao mundo a raridade divulgou
8 - Terra e Planta, Planta e Terra
No Namibe, perfeita combinação
Abençoada Natureza encerra
Os meus sonhos e paixão
9 - Casuarina, taipando aquele Local
Pinheiro bravo, importante Vegetal
Serenou as areias do ventão
E todos viveram na povoação
10 - Ao Norte, na saliente pontinha
Onde o Diogo nos pôs na Historinha
Pela escuridão Cabo Negro baptizou
Logo com Padrão o sítio marcou
11 - Naturalmente defronte em homenagem
O Navegador teve a sua imagem
Donde peixe e mexilhão foi apanhado
No Museu está o pedrão apresentado
O poema que a Cereza tem a amabilidade de divulgar não é de imediata interpretação para quem não viveu naquele lugar. Mesmo que tivessem conhecido, por breve passagem, desconheciam certamente pormenores que eu resolvi reviver. Por isso, achei por bem escorar o texto com algumas explicações. Pela extensão do texto e dos apoios, as minhas desculpas.
Vou ser longo, embora pontualmente, para que possam também gozar comigo um mundo que era só meu… Será gozo, prometo, mesmo para quem não goste de perder muito tempo com leituras, para quem não gosta de viajar, para todos os que gostando, não gostam de viajar lendo. Vou, com todo o prazer, servir de cicerone numa viagem que espero vos enleie e encante. Irão sentir certamente, embora de forma diferente, o que a minha “Lua” sentiu quando viu aquele recanto pela primeira vez, ou quando se banhou nas areias e no mar salgado daquele deserto, ou quando, um belo dia, correu sobre a duna, quebrada abruptamente, e se atirou para aquelas águas mansas. No mergulho apercebeu-se imediatamente que já não tinha pé (era suficientemente profundo). A duna era como se de uma prancha de salto se tratasse e o mar como se uma piscina ali existisse. Esse local era conhecido por Fundão por essa razão. Descolem daí, levantem essas “bundas” dos sofás e venham comigo a um mundo real que não quero virtual por ainda fazer parte do alto-relevo dos meus sonhos.
A 2ª quadra - Onde nasci. Trata-se de uma povoação plantada ao longo da praia de uma enseada (ou angra), localizada no lado contrário ao do istmo (ou língua de areia). A enseada tem a forma bem pronunciada de ferradura, cujo istmo chamávamos ilha (que de ilha nada tinha). Actualmente é mesmo ilha porque o mar entretanto engoliu a areia na parte que ligava a língua ao continente africano. Dentro da enseada, creio que cabe toda a actual esquadra americana. É de facto enorme. O misto de casario e estrutura de pesca (pontes em cimento ou em madeira) estavam compactamente perfilados ao longo da praia, numa extensão aproximada de 5 quilómetros. Desde a primeira casa à última pescaria (estrutura de pesca) só havia uma única rua asfaltada ao longo da praia (longitudinal). Se nos virarmos para Norte temos ao centro a estrada asfaltada, do lado esquerdo as pescarias (viradas para o mar) e do nosso lado direito (Leste) encontramos o casario, também voltado para o mar. Um arvoredo denso de Casuarinas taipava a urbe, retendo as areias trazidas pelos ventos. Ou seja, dum lado da estrada estavam as pescarias e do outro, em fila, as casas, normalmente pintadas de branco, talvez influência dos algarvios, embora as casas fossem diferentes das do Algarve. Toda a gente conhecia toda a gente (cerca de 5 mil habitantes entre negros e brancos – mucurocas, quanhamas, madeirenses, algarvios e poveiros.
Do 3º ao 8º poema - O nome da terra. Os navegadores começaram por lhe chamar Angra das Aldeias (desabitada). A colonização nessa área tem início por volta de 1800. Por alturas de 1835, o explorador inglês, Sir James Alexander, visitou essas terras (já lá havia colonos) e com as graças do Governo Português, as cartas inglesas passaram a constar de Porto Alexandre. Os portugueses, não se sabe bem porquê, cómoda e erradamente aceitaram tal topónimo. Existe uma planta no deserto, a poucos quilómetros de Porto Alexandre, que é única no mundo e com características muito especiais. Os nativos da região deram-lhe o nome de Tômbua, portanto milenar. Em finais de 1859 lá chegou um Sir, botânico inglês de nome Frederico Welwitsch, que se entusiasmou com a raridade. Estudou-a e a divulgou ao mundo. Deu-lhe o nome de Welwitschia Mirabilis (Welwitschia pelo seu nome e Mirabilis devido às miragens do deserto provocadas pelo libertação das vagas de calor emanadas do chão). Proclamada a independência de Angola, em 1975, o nome de Porto Alexandre (colonial) foi substituído por Tômbua (nacional), em homenagem ao nome da planta milenar.
9º poema - Esta quadra dá verdura ao ambiente com a Casuarina. A zona é fustigada por ventos, por vezes fortes, com direcção do deserto para o mar, carrega toneladas de areia tapando tudo à sua passagem. Impossível viver-se naquele local riquíssimo em peixe. As autoridades experimentaram tábuas e árvores para travar as areias do deserto trazidas pelo vento. A única espécie eficaz foi a Casuarina (tipo de pinheiro bravo ligeiramente diferente do existente em Portugal). A partir daí foi possível fazer nascer aquela povoação.
10º e 11º - Estas quadras revivem a história da nossa gente. O navegador português Diogo Cão ao descobrir Angola colocou um padrão (marco) no Norte (Zaire) e outro no Sul (a 10 km a Norte de Porto Alexandre aproximadamente). O do Sul foi colocado no extremo de um cabo marítimo a que chamou Cabo Negro por ser muito escuro, visto de longe. Curiosamente, em frete, dentro da água, está uma pedra muito grande que faz lembrar a cabeça de uma pessoa. Por isso se diz que é a cabeça desse ilustre navegador português. O padrão original encontra-se na entrada do Museu de Marinha em Lisboa pelo que, o existente no local (se não foi retirado após a independência) é uma réplica. Na base da rocha desse Cabo e nas pedras circundantes existe muito mexilhão grandão (com sabor a maresia) que lá íamos apanhar.
14/Fevereiro/2006
Abel Marques