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Custa ter um pai ausente, mas o que custa mais, é ser um filho por conveniencia.
De um momento para o outro, após mais um desfecho negativo da vida, provocado pelo meu irmão mais novo.
Um pai, deixa de falar a um dos seus filhos, Eu.
Deixa de ligar, mandar sms ou simplesmente saber dele.
Passa-se o Natal e nada. Nem uma mensagem, nem um telefonema, nada...
Fim de Ano, o telemovel toca.
Nome? Pai... Não atendo. Pára de tocar... Uma mensagem de voz...Ouço atento:
"Boa noite filho. É o pai para dizer que não se esquece dos filhos. Bom Ano Novo."
Desligo o telemovel e penso para comigo:
"FODA-SE... Preferia que te lembrasses dos filhos no Natal!!!"
O tempo passa. Um dia, uma semana, um mês e sempre a mesma coisa. O meu pai? Só o vejo, quando me cruzo com ele por acaso na rua, sem aviso prévio, sem marcação.
8h15m, o telemovel toca.
Nome? Pai...
Atendo admirado:
"Bom dia filho, tens conta no BPI?"
Ainda a dormir, acordo com aquela pergunta e respondo que não.
"Ok, obrigado filho. É que o pai precisava levantar um cheque que está traçado. Xau."
Desligo o telemovel e fico ali na cama, a pensar no que tinha acabado de acontecer.
Mais uns meses e a mesma rotina. Um "Ola filho" quando por acaso nos encontramos na rua.
No meu aniversário e para meu espanto, ou talvez não, o meu telemovel tocou muitas vezes, mas nenhuma delas foi o meu pai.
Pois é verdade. Nem um telefonema, nem uma mensagem dele.
Esperei pelo dia seguinte. Nada também...
Passa uma semana exacta após esse dia que deveria ter sido especial e lá que num dos acasos da vida, adivinhem quem eu encontro.
É isso mesmo, o meu pai. Recebo, mais um "Ola filho"...
Apenas soube que mais este acaso se deveu porque ele tinha de ir ao médico e passar pela porta de minha casa.
Sobre o meu aniversário? Nada, nem nada me disse...
Mas pronto segui em frente.
Mais uns mesitos com muito poucos acasos, com isto tudo, ja quase um ano se passa sobre a situação originada pelo meu irmão.. quando... Recebo um telefonema do meu pai:
"Ola filho, podes falar agora?"
Estava nos correios mas disse que sim, pois era um momento único.
"Filho, qual é o valor do teu IRS?"
Eu ainda atordoado com a pergunta disse: "IRS?"
Do outro lado ouvi novamente:
"Sim, IRS..."
Eu, já calculando, apenas perguntei para quê?.
"É que o pai precisava que fosses meu fiador."
Naquele momento, não sei como fiquei, mas a funcionária à minha frente acho
que se assustou com a minha cara. Mas ainda disse que não iria dar, devido aos empréstimos que tinha no banco.
"Mas tens muitos?"
Naquele momento, acho que me deu vontade de rir, chorar e sair dali a correr...
"Tenho aqueles que tive de fazer devido as asneiras do teu filho mais novo..."
A resposta do costume:
"Ok, deixa estar então. Xau filho..."
Bem, acreditem, depois desta, tive a certeza que passei a "FILHO POR CONVENIENCIA"...
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Criador de Sonhos