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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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Urban Jungle

24
Out05

A vida real

Cereza

Não é apenas um texto, ou um romance... é uma história de vida.


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Invoco um sonho e deixo-me levar pela sua aparência, anseio por um destino e deixo-me morrer na subtileza.
Com os olhos vazios, passo algum tempo a sobrevoar o conhecimento da escuridão. Como uma criança nascida na chuva, condeno-me a ficar para sempre gelada por dentro.



Talvez me sinta amada como nunca o fui. Quando te imagino a beijar os meus lábios e poderes finalmente amar-me também, quando desejo fazer parte de todos os sorrisos e secar todas as lágrimas, o meu corpo fica limitado à dor que afinal me abraça e sei que não posso continuar a hesitar. Sabes bem que dei todo o meu ser, dei tudo de mim, fiz o impossível, que era acreditar no possível, poder amar-te para sempre com todas as minhas forças, esperar um novo dia com a certeza de te encontrar.



O silêncio, contudo, tomou conta de mim.
Não vale a pena contar como nos conhecemos, basta dizer que nunca dois olhos chegaram tao fundo como naquele dia… Depois de uma série de jogos acabamos por nos render. Sabes o que mais gostei? Os nossos olhares compreendiam-se, as mãos sabiam por onde, como e quando andar. Ambos sabiamos (e sabemos) que não há no mundo outros seres capazes de nos completar como nós nos completavamos. Há um olhar teu que nunca esquecerei… fez-me sentir viva, amada e desejada. Claro que a seguir a tanta paixao vem a decadencia…



Estou certa de que nenhum de nós conhece agora o sol, sinto-me retida na sombra, não deixes crescer em mim o ódio de te querer ver de novo, sei lá para quê...
Morri no instante em que pensei ter começado a viver, porque não era possível continuar vazia por dentro.
Compreendi a causa do nosso afastamento. Eu sei que me estava a desviar do caminho desejado pela sociedade, mas será que o que sentiamos um pelo outro não valia a pena? Agora que não te vejo, olho para dentro de mim e é como se encontrasse cicatrizes do nosso amor, pedaços de mim e de ti, dantes ligados, agora sem rumo no meu coração.



Chegamos a um ponto onde praticamente nao falavamos. Mensagens que não eram respondidas, telefonemas não atendidos, cartas lidas com dor mas nunca respondidas… Sei que também sofreste com a tua decisão, mas a dor que senti naquela altura era de morte. Passava os meus dias com o pensamento “É noite e não sei onde estás. Queria ter-te a meu lado...”



Dois anos passaram (como é possível que a minha vida tenha estancado durante esse tempo?), foram tempos de loucura em que nunca imaginei que um ser humano pudesse sofrer tanto. Por vezes dizias-me uma ou outra palavra tentando tranquilizar-me. A minha resposta era sempre a mesma “Como pode estar tudo bem se estou sem ti, aqui nesta casa onde não queres entrar, alimentada pela esperança de te encontrar e, apesar disso, vencida pela saudade de te ter perdido.”



Mais tarde descobri o motivo para me teres afastado de ti… Foste pelo caminho fácil, tornaste-te traficante, dos pequenos, quase por brincadeira, mas sabias que não era coisa de miudos e nunca me quiseste perto nem me quiseste contra. Mais meses passaram até que a minha suspeita foi confirmada. Deixaste de me esconder essa tua faceta e resolveste levar-me ao centro de onde tudo acontecia. Contaste-me tudo o que se tinha passado nesses anos (que foram anos de vida perdidos e anos de dor ganhos) e mostraste-me mesmo como tudo era.


Ao fim de tanto tempo voltei a olhar esses teus olhos, que apesar de mais baços ainda deixavam transparecer todo o carinho que por mim tens. Confesso que quando me fui embora chorava como uma perdida. Podia aceitar muitas outras histórias, mas aquela não podia estar a contecer. Como se nao bastasse voltaste a fazer de mim a tua confidente. Nem imaginas o quanto eu sofria quando me dizias que tinhas estado outra vez detido. Coisas leves, mas que marcam a tua vida.



Não aguentei mais e contei a uma pessoa da tua família. Desde que conheci a tua mãe que soube que tinhas ali uma amiga, mas que tu não querias confiar (talvez por saberes o quanto ela também iria sofrer). Quando contei fi-lo porque já não tinha forças para continuar a suportar sozinha aqueles teus segredos. Pensei que assim te poderia esquecer de vez, tirar-te da minha vida…



Todos os dias me interrogo se foi a decisão certa, se não teria sido mais corajoso e digno vencer o orgulho, domesticar a raiva e controlar o ciúme, renovar o meu amor por ti. Não fui capaz, talvez a outra que não tivesse gostado tanto de ti fosse mais fácil continuar, pôr-se em causa, modificar-se.



Mas aconteceu o que eu não estava à espera. A tua maior amiga pediu-me algum conforto e eu não fui capaz de lhe dizer que não. Claro que disto nunca soubeste… Quando a tua família toda ficou a saber pensei que me ias odiar com toda a tua força. Mas não! Apenas disseste que eu te tinha traido, mas que não me conseguias odiar nem me desejar nenhum mal.



Os anos passam e a nossa história parece nunca ter fim, tu não me deixas esquecer-te e talvez eu não queira que me esqueças… Os anos passam e eu não me consigo apaixonar por mais ninguém… Os anos passam e eu tenho a certeza que nunca ninguém te irá amar como eu amei e que nunca serei amada como fui. Mas mesmo assim gostava de voltar a sentir o calor da paixão e o conforto de um olhar…



A dúvida terrível em que vivo, o dilema que me assalta todos os dias é afinal saber se tudo poderia ter corrido de outra forma, se apesar de tudo o que se passou conservaste alguma ternura por mim...
Percorro a cidade e vejo-te em cada esquina....
De tudo o que em ti amei e não me deste, ficou só agora a cor dos teus olhos, essa luz que me iluminará para sempre...


_Eu_


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