Confissão
Que lindo texto este! Também eu tenho inveja disso tudo Lena.
Eu pecadora me confesso...Sou uma invejosa. Perdoem-me os jovens a quem invejo a juventude, os velhos a quem invejo a experiência. As igrejas a quem invejo a tranquilidade, os mares a quem invejo a vastidão. Não concebo nada que eu não inveje.
Os Kilimanjaros e os Saharas, as Patagónias e os Ayers Rocks, põem-me verde de inveja. Os gorilas do Uganda aliam-se aos leões no Quénia e matam-me sem me tocarem. As vinhas do Douro e as planícies do Alentejo, parece que fazem de propósito para me tocar no ponto I e activar a inveja. E como me dói... As pedras do chão da Praça Vermelha, a voz melosa do Leão da Tunísia a contar as aventuras quando era trapezista, a chama das velas que acendo, a aldeia das Velas em S. Jorge, todos os óculos de sol de todos os oculistas, a capacidade do disco do meu computador, o nevoeiro, o Sol e a Lua, a vida desconhecida noutros planetas, o Gagarín, o Mozart, o Einstein, o Vasco da Gama, o Alexandre, o Aquiles... até as cartilagens das asas dos pássaros eu invejo! E o fundo do mar, como será o fundo do mar, que dirá o fundo do mar, qual será o fundo, do fundo do mar...?
Dano-me e enraiveço-me... eu queria ser o fundo do mar! Mas também queria um farol e invejo as capitanias dessa costa fora por terem faróis e eu não ter! Ah... e o chapéu do Indiana Jones, como o invejo, sinto que seria capaz de o roubar! E os dicionários! Deuses dos Olimpos, são cofres de riqueza incalculável com tantas combinações possíveis e todas maravilhosas... porque não posso ser um dicionário...? E uma palmeira... daquelas enterradas na areia quente das praias do Pacifico... ai, que inveja... Rebento de inveja quando ouço vozes a falar outras línguas. Fico roída com os templos dourados da Tailândia, seca de inveja com a verdejante Amazónia
Isto mata-me pouco a pouco... era tão fácil ter inveja das pessoas que me rodeiam e dos bens materiais que eles possuem...
Lena