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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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12
Out05

Putas, Prostitutas (os) e Prostituição

Cereza

Sem dúvida este é o meu tipo de texto... gosto de discutir estes temas polémicos que têm a ver com a nossa sociedade. Não sejamos hipócritas... as Putas, Prostitutas (os) e Prostituição existem, e são sempre um tema polémico. Aproveito para explicar que a palavra "paineleiros" utilizada pelo Abel, nada tem a ver com os paineleiros do UJ, mas sim com alguns comentadores que por vezes aqui aparecem, para insultar as pessoas que aqui escrevem. Esses comentários foram de imediato apagados. Dada a explicação peço desculpa ao azelom (que foi o primeiro a comentar) de não ter explicado isto préviamente.... Explicado que está este pormenor... peço que se abstraiam do episódio e leiam o texto no seu verdadeiro sentido. Está mais uma vez maravilhosamente bem escrito, e eu vou comenta-lo sem qualquer dúvida.
Abel, já agora, peço desculpa de não ter nenhuma das músicas que referiste, mas penso que esta se enquadra na perfeição! (pela sua ambiguidade)


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Há paineleiros, dotados de rica massa encefálica nas unhas dos pés, cuja ignorância, adquirida com muito sacrifício e dedicação na Universidade dos Zéssabões, nos fazem lembrar coisas diabólicas para, burros como eu, motivar ou espicaçar. “Sabendo que nada sei” (Sócrates) só me resta investigar matérias de que sou carente. Às vezes leva tempo…, mas não me preocupa a minha burrice porque estou sempre ciente dela.

Preocupa-me sim, e muito, a ilustre esperteza desses animais iluminados, dado que não sei onde acaba a sua intelectual esperteza e começa a minha humilde sabedoria. Motivado por tal unha encefálica (traiçoeira), a prostituição foi a pressão que fez saltar a tampa deste leigo (aquele que é alheio a um assunto).



A diversa bibliografia diz o seguinte: Puta – Prostituta, meretriz, rameira e marafona; Prostituta (o) – Humano que tem relações sexuais por dinheiro; Prostituição – Comércio profissional do sexo; Filho putativo – Filho nascido de casamento putativo; Putativo - que é reputado de ser o que não é (O Menino Jesus é filho putativo de S. José). Ainda, se considerarmos que entregamos o nosso corpo ao trocarmos esforço (trabalho) por dinheiro posso, atrevidamente, dizer que todos somos prostitutos. Aos intelectuais paineleiros que se ofenderem não tenho que lhes pedir desculpa mas respeitá-los nas suas posições.


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É difícil descrever a evolução histórica da prostituição como analogamente se descreve para a lingerie, economia, Justiça ou outra actividade qualquer, porque a prostituição sempre foi, é e será a mesma actividade, por muitas mutações que sofra a sociedade ou mais voltas que se dê a essa profissão, não nobre mas importante, mais antiga do mundo. No entanto, alguns autores atribuem o seu grande desenvolvimento, a par com a evolução da burguesia, o urbanismo (surgido há pouco mais de dois séculos), e o modelo de família monogâmica aliado à noção de fidelidade. A burguesia não trouxe só riqueza e prosperidade, formou também um exército de desempregados e famintos abandonados.



O urbanismo permitiu a concentração de populações exteriores, ávidas de melhores condições de vida, impossíveis nos seus locais de nascimento, engrossando assim os primeiros. A monogamia envolveu-se numa série de preconceitos, dogmas e no culto do pecado (Céu e Inferno), atingindo directamente a mulher e dificultando a paixão na prática sexual conjugal. Neste contexto, o homem, promíscuo na sua essência, procura sexo e prazer fora do lar. A mulher é a “rainha do lar” cujo prazer passa a ser direccionado para o cuidado e a reprodução da família. A virgindade ganhou significado de pureza moral, guardando-se para um só homem que controlou seus “instintos”, e não se entregou à busca da satisfação de prazeres carnais e mundanos. São elas as primeiras a recear qualquer ousadia sexual por punição divina ou do macho. Assim, a prostituição e a prostituta passam a ser os opostos ao lar e à “rainha do lar” (mal amada). É aqui onde a sexualidade insubmissa acontece. Neste contexto, os homens vivem fantasias irrealizáveis no lar e os desejos proibidos passam gloriosos nos antros lúdicos e públicos – boates, bordéis, “zonas” e ruas. “É o território do prazer ilegítimo na vida quotidiana, onde se pode vangloriar as fantasias e actividades sexuais sem correrem o risco de mancharem sua identidade social e retornarem íntegros ao lar, à família e ao trabalho, tal como romanceava Jorge Amado, autor que humanizou a prostituta sábia, tolerante e acolhedora, e o bordel enquanto espaço de convívio social masculino”. Este é o cenário cujas condições são o íman para filhas e mães miseravelmente desamparadas buscarem o sustento para os seus lares.



Todos os paineleiros (incluído os adiantados mentais) que me lerem não pensem que isto só atinge os outros e os filhos dos outros. Nós não somos prostitutos porque tivemos condições ideais para não o ser. Dado que “a ocasião faz o ladrão”, não devemos golpear os outros que, por vontade ou sem ela, se viram compelidos a abraçar. Entra-nos pelos olhos dentro, insistentemente divulgado pela comunicação social, que pedófilos concentraram a sua ambição nos putos da Casa Pia e não nos putos dos nossos lares. A razão subjacente está na desprotecção, ausência de carinho e de dinheiro que não tinham, nem pais para lhes dar. As condições favoráveis aos tarados e desfavoráveis para os putos eram evidentes.



Não sei se podem imaginar quanto é difícil a vida de uma prostituta. As agressões a que estão expostas (verbais e físicas), pelos clientes e pelos proxenetas, não terem com quem os filhos e pais deixar (porque também são filhas e mães, com filhos como nós, e também adoecendo como os nossos), a polícia que as persegue, doenças que as assolam, ausência de assistência na saúde e na velhice, etc., etc., etc. Enalteço um amigo, que foi meu condiscípulo num ano escolar nocturno, na altura já com duas filhas, que nunca me escondeu ser filho de uma prostituta. Não se gabava da actividade da mãe mas no orgulho que sentia por ela. Acrescento que, em criança, sempre conviveu no meio delas e disse ter sido um menino de sorte devido aos cuidados com que foi contemplado. Nada lhe faltou, apenas o tabaco que tal pai um dia não comprou, nem voltou … Hoje, a analfabeta mãe é a razão do seu bem-estar porque, caso contrário, acabaria num vulgar mendigo, sem instrução, esfarrapado ou noutra qualquer coisa parecida. Hoje é funcionário quase reformado, de um dos nossos hospitais de Lisboa, muito querido no serviço e respeitado na nossa rua.


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Agora uma particularidade dos japoneses: Era orgulho para estes, as suas filhas servirem os senhores feudais como gueixas, mesmo sabendo a finalidade.
Lembremos dois povos (Portugueses e Argentinos) que adoptaram músicas que são expoentes máximos de identidade cultural. São ex-libris da cultura, cujas raízes emergem de antros de libertinagem e prostituição. Hoje são turisticamente emblemáticos, passados com orgulho nos salões chiques do espectáculo Nacional e Planetário. O Fado que nos emociona o coração, com poemas encerrando a vivência da nossa gente, e o Tango que nos sacode alegremente, obrigando a bambolear nosso corpo, ao ritmo de um compasso cadenciando.



Algumas vozes bem cantaram estas realidades que teimosamente nos perseguem e magoam. Quem não se lembra da “Casa D´Irene” (canção italiana), “A Casa da Mariquinhas” (Amália), a vida (pouco conhecida) cantada da fadista Severa, “Amélia dos Olhos Doces” (Carlos Mendes) e tantas outras coisas sobre o tema.



Concluo que, em minha opinião, a prostituição é um mal menor, cuja actividade deve ser respeitada, tal como tantas outras dignas, pela importância dos fados que encerra.
E a profissão é tão importante que consegue, saciando o apetite sexual masculino, consideráveis índices de acalmia e sossego numa sociedade. Os governos reconhecem a realidade e evitam combatê-la. Criam regras e por vezes disciplinam a actividade. Os índices de violência são travados, as violações atenuadas bem como outro tipo de perturbação, como por exemplo as crispações nos locais de trabalho. Os Estados Unidos da América, por várias vezes, contrataram prostitutas para actuarem nos palcos de guerras em que se envolveram, como por exemplo na Segunda Guerra Mundial e na Coreia. Desta forma criavam um ambiente de bem-estar entre os soldados, cujo objectivo era o moral elevado. Portugal nunca teve dinheiro para contratar ninguém pelo que, na Guerra do Ultramar, o António deixou-as circular livremente de quartel em quartel (em Angola, Guiné e Moçambique). Julgo que por cá, em Portugal, obrigava-as a possuírem cartão de sanidade, isto é, eram obrigadas a irem à consulta médica de tempos a tempos devido, especialmente, às possíveis doenças venérea.



Depois dos cravos desenterrados, os jardineiros enterraram a prostituição da Nação porque os médicos deixaram de sentir a sua presença. Logo, parece que já não há putas, foram exterminadas... restam agora os paineleiros (compreensivelmente assumidos)… substitutos... A este propósito interessa citar dois poemas de Rui Coelho que separam ambos os períodos:
Antigamente dizia-se assim:
António há-de morrer!
A Oliveira há-de secar!
O Sal há-de derreter!
E o azar há-de acabar!
Actualmente é caso para dizer:
O António já morreu!
A Oliveira já secou!
O Sal já se derreteu!
O azar não acabou!



Na Holanda existe uma via pedonal, famosa, de nome “Rua das Luzes Vermelhas”, via-sacra obrigatória para turistas, onde as prostitutas estão concentradas para que possam ser controladas em termos de saúde e fiscalidade. Têm direito a assistência médica e protecção social (incluindo aposentação). Essa Holanda é mesmo um país de verdadeiros adiantados mentais.



É evidente que deixei em aberto algumas questões sobre este tema, como por exemplo a prostituição masculina, a vocação objectiva de grupos sem o tipo de carências referidas ou condições desfavoráveis, entre tantos outros fenómenos. Mas esse texto surgirá certamente de um de vós, proponho, para que a Cereza possa amavelmente divulgá-lo.



Vou lançar um desafio: Sugiro… contributos que possam enriquecer este texto. Novidades, casos ou situações ocorridas... Todos queremos conhecer e aprender mais. O caso da mulher de um adiantado mental de um dos bairros da cidade do Porto que chamou “filho lindo” ao Senhor Rui Rio (Presidente da C. M) já todos nós conhecemos… Vá! Desamarrem lá essas curiosidades dos baús e venham de lá esses lálálás, lélélés e lólólós…

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20 de Outubro de 2005
Abel Marques


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