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Andei já eu de mão dada com a morte
Uns dizem que é fado,
Outros dizem que foi sorte.
Mas que me interesso eu com a morte?
Se já me colocam adágios
No alpendre da frente da casa,
Como que bons presságios,
Para o meu eterno descanso.
Mas que me interessa isso a mim?
Se mais certo não há
Que termos todos um fim,
Porquê querer tanto ver a manhã?
E logo algo que, enfim,
Vem todo o dia!
E que tanta vez passamos sem ver,
Dormindo até o meio-dia
Por desconhecer
Que no seguinte amanhã
Podiamos morrer.
Não me interessa isso mesmo nada!
Eu que acordava toda a madrugada,
E ao pôr do sol estava deitada,
Não quero saber se verei amanhã!
Não dei o corpo ao trabalho
Não estudei, nem sou educada,
Tudo o que sei é quase nada,
Mas no que aprendi nunca falho!
Não tirei até agora grande lição
Excepto que a razão dá trabalho
E o coração é um cobarde reles
Que nem anjo e demónio,
E preciso de nenhum deles.
Ainda assim eu choro,
E não! não temo a morte.
Não temo a morte porque não vivi
E tudo o que corri,
Tudo o que senti,
Não foi mais que um falanço da minha parte
Talvez porque fui ingénua,
Ou faltou-me a arte.
Para viver é preciso arte.
E com braços frouxos
Embraço de uma triste mentira
De que ainda um dia tiraria
Algo de sabedor
Desta vida minha.
Doença.
Doença é o que me assola diariamente,
Como um tumor dilacerante,
Permanente.
Vivo sentada e dormente.
Como uma doente,
Para tudo preciso de um ajudante,
E nada me espera,
Nem pensamento, nem realidade,
Tudo o que me resta é a minha enfermidade
E uma cadeirinha
Onde me encosto, dolente.
by Bárbara Sousa aka Narag
30 de Janeiro de 2006