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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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Urban Jungle

22
Jul05

Estatua peão

Cereza

A mim não me choca nada...mas sei que algumas pessoas irão ler este texto, e ficarem no minimo sem saber o que pensar. É verdade, o Bondage ainda choca muita gente (e nem vamos entrar pelo BDSM). O Bondage "soft" pode apimentar bastante uma relacção. Este é tema controverso, podendo dar lugar a uma discussão bastante interessante.
Quanto ao texto, está muito bom. Parece grande mas lê-se bastante bem.


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Deixa-te ficar aí... isso... senta-te. Não te mexas. Espera... vou acender o candeeiro, correr as persianas e apagar todas as outras luzes. Não te mexas... agora vou sentar-me. Vou ficar aqui a observar-te. Vais fazer tudo o que eu disser, não vais? Sim... eu sei que vais... nunca deixaste de ser a boa menina que sempre foste. Xiiiiuuu... não fales... mantém-te em silêncio. Quero-te imóvel e silenciosa. Como uma pena de cisne negro, que outrora dançou com a fúria dos ventos, e que depois do bailado traumatizante, se deixou levar... e cair... Vês? Eu fui esse vento que te fez voar; eu fui esse vento que te fez subir e descer e cair. Numa inesquecível dança... ora de terror, ora de êxtase... Gostaste? Eu sei que gostaste. Tu gostas de terror. Aliás, na verdade tu odeia-lo com a mesma intensidade que o desejas.



Bem me recordo, com grande gozo, o dia em que te lancei, como uma flecha em forma de fuso, direita ao chão; tu abriste muito os olhos. Eu diria que a córnea quase saiu com a força da velocidade vertiginosa. Mas ao mesmo tempo que gritavas, eu via, com as minhas mãos, com os meus olhos... com um sem número de sentidos – que possuo – o quanto gritavas, interiormente, o quanto imploravas que eu te atirasse com mais força, cada vez mais rápido. É uma tortura. Eu sei. Porém, tem as suas vantagens. Eu gosto de o fazer. Tu adoras os meus actos. Estás a ouvir-me? Não precisas responder. Eu conheço o teu pensamento. Eu penetro no teu cérebro. Quando estás acordada. Quando dormes. Eu sou, na maioria das vezes, os teus pensamentos todos. Porque os roubo. Eu roubo-te o pensar. Eu contro-lo as tuas ideias e emoções. Os teus gostos e desgostos. Por isso gostas tanto de mim. Nunca tinhas pensado nisso? Também o sei. Sou eu que controlo as verdades que quero que descubras.



Gosto de observar-te. Gosto de ter-te assim. Como uma estátua e contemplar o teu silêncio exterior e apreciar todos os teus conflitos interiores. Os que eu controlo, como se fosse um jogo. Tu és a minha estátua peão. E não podes falar. Os peões de jogo não falam, não pensam. E tu és tudo isso. Pensas pela minha mente, através dela e moves-te pela minha mão.



Desaperta os três primeiros botões da camisa. Desaperta mais um. Mais outro. Abre-a. Quero ver a brancura do teu peito. Quero examinar daqui, quantas orquídeas pequeninas tens bordadas no teu soutien. Vira-te mais para a esquerda. Olha para o horizonte do quadro acima da minha cabeça.



Eu sei que querias ser um pardal. Vê-lo? Como é belo e frágil... eu tenho isso tudo de ti. Roubei-te esse voo, esse poisar e pintei-o naquela tela. Agora podes observar-te também...
Despe a camisa. Xiiiiuuuu... devagar... eu não tenho pressa e tu sabes o que isso significa para ambos, não sabes? Eu sei que sim....
Vira-te para mim. Isso... quero-te direita. Põe as costas rectas como eu te ensinei. Olha o horizonte. Fixa-o. Poisa os olhos nas asas do pardal. Isso... não te esqueceste... linda estátua. Linda menina. Lindo pardal.
Oiço a tua respiração. Hum... afasta as pernas. Mais um pouco... é bom brincar com a tua libido.



Atira-me o maço de cigarros que está atrás de ti em cima da mesa. Mantem as costas direitas. Roda apenas a cintura. Muito bem. Chegaste lá. Vá... atira-o. Sê gentil. Sê delicada. Sê ao meu gosto.
Sabes, sempre que acendo um cigarro penso no teu corpo. É branco e tóxico. É delicioso e um vicio. E eu adoro consumi-lo... ainda que isso me envelheça e me torne cada vez mais dependente. E manusear-te é como folhear um bom livro. É ter-te como o meu livro. Um livro só nosso que podemos marcar frases a tinta de caneta ou a lápis. Um livro que podemos ler centenas de vezes sem nos cansarmos da mesma história. Um livro ao qual podemos arrancar páginas ou simplesmente marcá-las dobrando-lhes as pontas. E eu faço-te tudo isso. Muitas vezes. Como se quisesse limar-te as arestas. Como se tivesse um lobo possuído dentro de mim que sai só para marcar território por todos os cantos e recantos. Porque tu és minha. E eu marquei-te assim.



Fecha os olhos. Abre mais as pernas. Quero sentir o silêncio que tens, o silêncio que me escondes por baixo dessa saia... não abras os olhos. Tenho um presente para ti. Se os abrires... será desagradável para ambos...
Quero que deslizes o teu corpo pela cadeira... quero ver essa saia a subir... abre as pernas enquanto cais... isso... linda menina... vou avançar para ti. O som dos meus passos dão um movimento quase que teatral ao teu corpo. Estremeces suavemente... tão bom sentir o teu terror... que será desta vez? Hum? Sorrio... tu divertes-me sempre... gostava que visses a tua imagem neste preciso momento. Gostava que visses os teus cabelos espalhados pelo chão. Está frio? Vou tirar-te o soutien para poder saborear a visão dos teus mamilos trémulos... de frio? De excitação? Ah! de terror...



Vou dizer-te o que tenho aqui. É uma pena não poderes ter todas as visões fantásticas que tenho. É uma pena não poderes ver o tabuleiro de jogo... mas eu vou dizer-te. É um telefone. Xiiiiuuu. Ah ah ah! um telefone mágico com um número mágico mas... és tu quem vai fazer o número da noite. És tu quem vai fazer a magia... queres? Não tenhas medo... eu vou estar aqui contigo. Vou observar-te como sempre. E tu vais ouvir tudo o que essa voz tem para te dizer acerca de ti. Vais ouvir o que essa voz gostava de poder fazer-te. Sabes? como se a tua mente fosse controlada à distancia. E tu vais imaginar tudo certinho, ouviste?



Já sabes quem é? Vejo que lhe reconheceste a voz... Vejo como o teu corpo ainda se contorce só de a ouvir. Não adianta moveres a cabeça. Não negues que eu bem vejo! Eu sinto. Eu farejo. Tu ainda estremeces... pena não poder mandar-te calar, nem gritar contigo, nem amarrar-te ou vendar-te os olhos. Estás absolutamente encurralada.
Vais ficar aqui sossegada na mesma posição. Pousa o auscultador. Quando eu regressar vou fazer-te tudo o que aquela voz te disse.



Lágrimas
e sangue
Terror
Prazer
Círculo fechado

alexandrantunes

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