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Urban Jungle

pensamentos, divagações e tangas da selva urbana

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19
Mai05

Caixas e Comp.Lda

Cereza

Todos nós temos alguma caixinha com recordações, cartas, bilhetes de concertos... essas coisas. De vez em quando é bom ir lá ver :) A Constancinha conta-nos essa experiênia.... E vocês que encontram de tão especial nessa caixinha escondida aí em casa?


When_Writing_You copy.jpg


Hoje , sem querer, fui dar com uma caixa já gasta pelo tempo, cheia de folhas e
mais folhas escritas por mim ao longo dos anos. Sentei-me e coloqueia-a à minha
frente. Abri-a. Tanto papel.. meu deus!!! Qual herança, que foi ficando
esquecida. Palavras dos tempos em que se tornava melhor escrever que falar.

Tempos em que as crianças nao ouviam as conversas dos adultos, em que não nos
era permitido dizer : Ó Mãe porque és tão chata? De palavras de amor e
paixão que se escondiam porque não cabia na cabeça de uma adolescente dizer
: Gosto de ti, porque ficava mal ). Era bem mais fácil dizer o se sentia
atraves de letras que geralmente nao eram lidas a quem eram dirigidas e que
religiosamente eram escondidas nos mais recônditos espaços, para não serem
encontradas pelos adultos. Sim, porque nesses tempos só o nosso pensamento era
inviolável.

Comecei por ler algumas das folhas, sem ordem temporal e acabei por
sorrir e rir. Engraçado, não chorei. Constatei que tinha perdido a noção de
que diziam quase sempre a mesma coisa... um grito de revolta, um desabafo de
tristeza, um ruidoso e inconsciente pensar que estava sozinha.

Hoje, passados anos, os meus gritos são outros, não me sinto triste mas cheia de saudades e não me sinto sozinha. Descobri que o estar sozinha só acontece quando nao gostamos de nos o que é meio caminho andado para gostar do e de quem nos
rodeia .Que a revolta que sinto já nada tem a ver com o que me diziam ou
faziam, mas sim com tudo o que ouço e vejo no meu dia a dia, que eu não posso
alterar, mas que sei que posso ir dando um jeito e que a tristeza não passou de
um estado semi inconsciente de tudo o que sonhava ter e que sem dar por isso
tive.

Juntamente com essas folhas encontrei alguns desenhos cheios de cor, do meu
filho com dedicatórias doces que já nem me lembrava que existissem. Num
deles, com uma letra pequenina e redondinha e com a data de Abril de 1991 dizia
: "Não é uma obra de arte, mas é um desenho... é para ti. Um presente do teu
filho . Beijinhos infinito mil. Mãe, obrigada pelo Kit Kat nham nham com uma
carinha sorridente pintada de amarelo e com os cabelos em pé. " Por momentos
parei no tempo e pensei. Fui e sou uma pesso CHEIA de sorte. Porque, perguntam?
Simples, porque chego à conclusão que os meus gritos foram ouvidos, por vezes,
que teve razão de existir a tal tristeza, se nao nunca saberia o que seria a
alegria e nunca estive só, sobretudo nao me sinto só.

Acabei por passar uma vista de olhos por todo aquele amontoado de papel. Coloquei de parte algumas folhas que merecem fazer parte do meu espólio e que , quem sabe, um dia serão lidas pelo meu filho aos filhos dele. O resto , como uma cidadã preocupada com o nosso bem estar, foram para reciclar. Um dia destes quando comprar papel higiénico pensarei: Será que vou utilizar parte daquela "merda" toda para me limpar ?
Quem sabe se neste momento alguem o estara a fazer ? )))). Ah! É
verdade, a caixa tambem foi á vida, que a ocasião mereceu uma caixa novinha
em folha.



CONSTANCINHA


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