Gosto de beijar!
É deplorável que me sinta tentado a pensar! Por ignomínia, como tenho repetido sempre, mais uma vez vivi tudo completamente sozinho. Que me importa a provocação de olhos frios? Não me aquece a noite. Neste aeroporto, perdido no meio de nada, em Stansted, dormem pelos cantos imitações de uma humanidade pouco esclarecida e muito pouco esclarecedora. Tão intragáveis quanto o café com leite que me serviram, lançando olhares meio entorpecidos surpresos mulheres, quase sempre aos pares, mostram pedaços de pele como se eu pensasse, sequer, na pele de mulheres intragáveis.
Cigarro após cigarro, vou queimando o tempo desta espera que se demora, perfurando a noite muito devagar. Valha-me que, como é habitual, são quase sempre morenas ao menos não me desvio nem por um momento da senda que me foi distribuída pelo plano da minha paixão e parece que te trago agarrada a mim. Será ? Convences-te que é carinho o que deposito através de todas as minhas acções. Convences-te que é amor O amor só convém aos que são capazes de suportar essa carga psíquica. (Charles Bukowski) Não será?
Mas está a fazer-me muito bem estar aqui. O torpor já me passou. (O raio da morena no bar, até de costas, não deixa de olhar para mim. Serve-se dos olhos da amiga para me provocar). Raios, mais 24 horas e deixava-me convencer.
Por terras de S. Majestade está um tempo ameno. São quase 5 horas da manhã e, de repente, à minha volta sucede uma explosão de vida.
(Se levanta mais a camisolinha vou acabar por lhe ver os sovacos. Peles!)
Será que esta minha atitude para com as mulheres é condenável? É, deve ser. Daí que, cada vez mais, vozes agudas de contralto chamando-me filho da outra, cresçam continuamente. O pior é que, quanto mais sou pior, mais pareço transportar um íman. Porra, eu devia ser anexado! Um dia ainda vou tentar a castração psicológica.
Ouvindo Gary Moore, finalmente entrei num universo mais bonito. Como é diferente depois do check-in. Finalmente no meio de pessoas vivas. Interrogo-me acerca dos diferentes destinos destas pessoas todas. Algumas destas mulheres devem ir para o céu, de tão lindas que estão. Não me custaria muito admitir partilhar com elas um pouco deste inferno que trago sempre comigo. Vou-me interromper, na escrita, antes que comece a gritar how much I miss you.
Às vezes penso que é uma maldição eu escrever assim. Temo por tudo que pode acontecer por causa da forma como escrevo. Sinto-me desprotegido! Ao escrever, seco-me, seca-me a alma. Como se me chupassem por dentro, caem-me mulheres na vida, apenas interessadas em chupar-me por dentro. Começam sempre por procurar alguma coisa dum inner inexistente e, é inevitável, acabam sempre por me estender os braços, num abraço que termina sempre num amplexo sistemático e violento, agressor Amor! Não sei se aguento. Consigo contar, facilmente, meia dúzia de desvios emocionais, perdidos entre aquilo que eu escrevo e aquilo que eu abraço. É duro permanecer. Sou inconstante. Não existe um mínimo de consistência naquilo que ofereço. Realizo-me com esta fome permanente e inultrapassável que tenho de laços Im addicted to sex.
Gosto imenso de beijar. Tudo aquilo que termina com um beijo, acaba bem. O pior é esta incapacidade que as mulheres têm para resistir a um beijo. Desde que beijem, abrem uma auto-estrada para o sexo. Ao menos se entregassem sem se justificarem. Mas não, há sempre o amor, a promessa, os olhos muito abertos, a relação. Esvaziam-me. Vou passar a colocar um qualquer aviso em tudo aquilo que escrever, do tipo : Perigo, sexo! Assim, as suas personalidades hesitantes e incapazes de fugir ao logro, quiça, se coíbam de me chuparem por dentro.
Maslow